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A fake news sobre o fecho das escolas

A fake news, amplamente divulgada logo após ter sido anunciado, no domingo 4 de junho, alerta vermelho para a Madeira devido às condições meteorológicas, deixou pais, alunos e a restante comunidade educativa regional em alvoroço. E com razão. 

O que terá motivado a criação deste conteúdo desinformativo? Uma simples piada de mau gosto ou uma tentativa de provocar algum pânico junto da população? Quanto à primeira opção, sempre houve e sempre haverá engraçadinhos que não têm nada mais interessante para fazer… Em relação à segunda, o intuito é gerar confusão, testando a reação das pessoas e a capacidade de resposta das instituições, que podem ver a sua reputação posta em causa. Vários estudos comprovam que as notícias falsas se disseminam, em média, 70% mais rápido do que as verdadeiras. Se a difusão for pela Internet, sobretudo através das redes sociais, o alcance pode ser muito maior. E sempre que há uma conexão emocional com o conteúdo, a circulação é feita de forma ainda mais rápida. Neste caso em concreto, estavam então reunidos todos ingredientes para se gerar “buzz”, com vista à viralização.E assim foi. Ignorando-se aspetos curiosos, como o facto de o texto estar escrito em português do Brasil, a notícia falsa foi amplamente propagada e, mesmo horas após ter sido divulgado em vários órgãos de comunicação social um comunicado oficial do Governo Regional a esclarecer que as escolas não iriam estar fechadas no dia seguinte, a fake news continuava a ser disseminada. Felizmente, os mais conscientes ripostavam de imediato com notícias ou links de publicações que permitiam comprovar que a primeira notícia partilhada era falsa.Ainda assim, a desinformação imperou durante algumas horas, o que comprova que é preciso continuar a apostar na literacia mediática, dirigida não apenas aos jovens estudantes, mas a um público mais amplo, que tenha acesso a mais ferramentas que lhes permitam avaliar a credibilidade da informação, num contexto educomunicacional, com uma sociedade integrada num mundo digital interconectado onde se consome cada vez mais informação e a uma velocidade estonteante.É que o fenómeno da desinformação tem vindo a aumentar de dia para dia. Os avanços tecnológicos e o acesso global à Internet e às redes sociais têm contribuído para que as fake news se disseminem facilmente, alcançado um grande número de pessoas num curto espaço de tempo.Devido à pouca literacia mediática, muitas vezes não se confirmam as fontes, pelo que são partilhados conteúdos falsos, o que contribui para o aumento da desinformação. No caso concreto da notícia falsa sobre o fecho das escolas, a situação era ainda mais complexa por se tratar de um órgão de informação credível, a RTP, o que pode ter aumentado o grau de confiança. Aproveito para refletir, na linha de Wardle e Derakhshan, sobre a desordem da informação. Estes autores, descrevendo o fenómeno da desinformação, introduziram, em 2017, novos conceitos para examinar distúrbios informativos, identificando três tipos: “misinformation”, “disinformation” e “malinformation”.Assim, há “misinformation” quando é difundida uma informação falsa, mas sem a intenção de causar dano. Já na “disinformation”, as informações falsas são intencionalmente proliferadas com o intuito de prejudicar alguém. Por outro lado, na “malinformation”, divulgam-se informações verdadeiras com o intuito de lesar o outro, normalmente através da revelação de informações confidenciais.