O financiamento público do Desporto / Parte I
É fundamental que os encargos com as equipas jovens sejam devidamente comparticipados, o que actualmente não acontece
Se é certo que, de acordo com a Constituição, “incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e colectividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e do desporto”, a descida de divisão de 3 equipas históricas (re)lançou a discussão pública sobre o tema do financiamento público.
Para uns é curto para alcançar o sucesso. Para outros excessivo, pois não tem qualquer retorno e/ou distorce a concorrência. Uns confundem os apoios ao desporto profissional com os apoios ao “outro” desporto, ou a parte (futebol) com o todo. E tudo, muitas vezes, sem que saibam que montantes estão, verdadeiramente, em causa. Quanto ao futebol profissional, nesta época desportiva os apoios públicos corresponderam, grosso modo, a € 1.750.000,00 para o Marítimo e a € 875.000,00 para o Nacional. Sendo valores relevantes, é evidente que, no actual contexto do futebol profissional/mundial, os mesmos representam uma “lágrima” do necessário para formar uma equipa de topo. No entanto, acreditar que o sucesso das equipas profissionais pode/deve ficar dependente do montante dos apoios públicos, bem como que estes devem ser aumentados até que tal sucesso seja alcançado (ou seja, até ao limite da incompetência própria), é ver o mundo ao contrário!Na verdade, para além de não existir “ambiente” político, ou, sequer, legal, para aumentar os apoios às equipas profissionais, o sucesso das mesmas depende, passe a redundância, da respectiva profissionalização, designadamente, ao nível da gestão, da estrutura, e das receitas. Tal não significa que não devam existir apoios públicos aos Clubes, nem que tais apoios não sejam decisivos para o sucesso das equipas profissionais. Mais, se e quando forem direccionados para o serviço público que é assegurado pelos Clubes em substituição do Estado, bem como para as áreas que podem garantir o seu crescimento sustentado e sua independência financeira, tais apoios até devem ser bastante superiores. Falo, naturalmente, da formação, das amadoras e das infraestruturas desportivas, áreas que não têm que ser rentáveis, mas não devem constituir um “fardo” financeiro, e em que, se muito já foi (e é) feito, muito há ainda por fazer. Em concreto, é fundamental que os encargos com as equipas jovens sejam devidamente comparticipados, o que actualmente não acontece, por exemplo, no caso da participação nas divisões/competições nacionais, que tanto custou a conquistar e que é indispensável para o crescimento dos atletas.Por outro lado, é imprescindível que os Clubes disponham de equipamentos suficientes, quer em número quer em qualidade, bem como de meios para manter e desenvolver os mesmos. Não é concebível que equipas de – suposta – “alta competição” treinem, em simultâneo, em “meio campo” e não disponham de departamentos clínicos e de performance desportiva adequados. E é confrangedor que ainda não exista qualquer (verdadeiro) centro de alto rendimento desportivo na Madeira. Neste particular, é ainda mais confrangedor que, num país que gasta € 333.333,33 por dia numa “coisa” chamada EFACEC, as entidades públicas que apoiam o Desporto, não tenham sido capazes de “encontrar” os € 7.000,00 necessários para a Madeirense Madalena Costa (que é “apenas” campeã europeia e mundial de patinagem artística no escalação de Cadetes) poder participar na Taça do Mundo, a decorrer na Argentina. Ou seja, porque existe sempre dinheiro para tantas outras coisas, e não pode deixar de existir dinheiro para o Desporto, apenas há que (re)definir as prioridades.