"Aceitar ser julgado pelo amor é bem mais difícil que ser julgado pelo pecado"
O Bispo do Funchal afirmou, hoje, na sua homilia do Dia do Clero, que "aceitar ser julgado pelo amor é bem mais difícil que ser julgado pelo pecado". D. Nuno Brás explicou que "aceitar ser julgado (perdoado, iluminado, conduzido, transformado) quotidianamente pelo Amor, é um drama para o homem pecador. Porque o pecado permite sempre a negociação, a contemporização, o meio caminho: deixa-se sempre embrulhar e convencer, procurando esquecer a radicalidade do Amor".
Na missa do dia Diocesano do Clero, que este ano é organizado pelas paróquia do Arciprestado da Calheta, o Bispo centrou a sua homilia na temática do amor. "O Amor que é o próprio Deus; o Amor que é fonte e origem de tudo o resto, de toda a realidade, é assim: exige transformação, caminho, entrega total e sincera. Jamais nos deixa como antes. Mas esse Amor é, também, de um modo não menos surpreendente, cheio de paciência e misericórdia", disse.
D. Nuno frisou que, dessa paciência faz parte a capacidade de não desistir de ninguém. "Este tempo em que nos encontramos é, portanto, o tempo da misericórdia, o tempo da paciência, o tempo do perdão oferecido ao pecador. Não o tempo da indiferença e do relativismo, ou da confusão entre pecado e bondade, mas o tempo de uma nova oportunidade, para nós e para todos", afirmou.
"Oportunidade que se manifesta em cada dia e em cada ano na possibilidade de celebrarmos uma vez e outra, e outra ainda os sacramentos da Eucaristia e da Penitência, e o mistério da Liturgia. Oportunidade que não se compadece com a indiferença, com o viver olhando para trás, mas que nos faz a todos ministros da paciência e da misericórdia porque sacramentos vivos de Jesus, presença daquele Amor primeiro e originário", considerou.
Logo no início da homilia, lembrou que a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que hoje se celebra, "convida-nos, antes de mais, a dar-nos conta desta realidade primeira, que nos envolve e abraça — a nós e a tudo o que nos cerca: “Porque o Senhor vos ama". Estava assim lançado o tema para ser abordado nesta cerimónia no Paul do Mar.
Mas aquele originário “porque o Senhor vos ama” é sobretudo concretizado na vida, na pessoa de Jesus. É o segredo do próprio Jesus, aquilo que nele fascina, a ponto de os discípulos serem capazes de largar tudo para O seguir. O que fascina em Jesus, com efeito, não é tanto o seu poder argumentativo, o seu saber ou as suas capacidades de taumaturgo. O que conduz ao seguimento do Senhor é a sua “autoridade”. O mesmo é dizer: o reconhecimento nele do Amor na sua raiz primeira, anterior a tudo o resto. D. Nuno Brás
"Contraposto à tecnológica Babel dos primeiros tempos, o Amor derramado no coração dos discípulos transforma todo o seu ser, revoluciona a sua vida. Fá-los deixar Jerusalém e partir “até ao fim do mundo”", explica.
D. Nuno refere ainda que "é também a presença deste Amor original, anterior à própria criação mas manifestado plenamente na Páscoa de Jesus, que permite aos mártires (outra das suas declinações mais excelentes) enfrentar generosamente o martírio, ultrapassando a dor, os insultos, a morte. E é ainda a sua presença que ao longo destes dois mil anos fez surgir os santos no meio do mundo — testemunhas de que o nada, o sem-sentido, a morte podem ser vencidos, definitivamente vencidos, por Aquele que tudo preenche".
"Na verdade, foi a presença deste Amor que, um dia, nos convenceu e nos venceu, a nós sacerdotes, fazendo ultrapassar questões e dificuldades (porque o Amor é maior que o pecado e as incapacidades humanas), e nos fez deixar tudo, dando-nos a capacidade para dizer o sim radical e definitivo de quem se coloca para sempre ao serviço, disponível para ser sua presença (desafio tão grande, imenso, que se fôssemos “sábios e inteligentes”, jamais o teríamos aceite). Sim: somos, todos nós, presença sacramental deste Amor, presença do coração de Jesus", considera.