O absurdo pavor das sondagens
A fotografia do momento não antecipa resultados eleitorais. Mas mesmo assim há quem revele angústia
Mau grado as recomendações emitidas ontem, alguns dirigentes partidários que hoje comentaram a sondagem da Aximage para o DIÁRIO e TSF espalharam-se de forma estrondosa. É esta gente que quer governar a Madeira?
1. O líder do PS-M não esconde uma angústia injustificada. É que nem nada está ganho, como nem tudo está perdido. Por isso, refugiar-se em chavões recorrentes, do tipo "as sondagens valem o que valem”, não é suficiente para entusiasmar as hostes. É melhor do que chorar ou culpar o mensageiro, mas dar como exemplo, que, “a uma semana das últimas Eleições Legislativas Nacionais, as sondagens diziam que o PSD ia vencer, mas, afinal, o PS venceu com maioria absoluta", quando nas últimas autárquicas, no Funchal, Miguel Silva Gouveia ia na frente a 3 dias do sufrágio com quase dois pontos de vantagem e viu-se ultrapassado por Pedro Calado que ganhou a contenda por 7 pontos e mais de 4 mil votos de diferença, é subestimar o sábio eleitor.
Sérgio Gonçalves podia ter usado argumentos para captar indecisos. Que votar PS é evitar que a ALM volte a tornar-se numa arca de Noé ou num circo, que é alimentar um sonho de ver alternativa na Região, pois por enquanto nenhum outro partido mostra ter eleitorado para lá chegar, que é contribuir para o reforço do escrutínio dos poderes. Mas não, garantiu solenemente que nada muda, apesar da tendência de queda nas sondagens. Estamos conversados.
2. Élvio Sousa considera que "nenhuma sondagem feita, ou estudo da opinião feito até hoje, terá acertado nas intenções de voto relativamente ao JPP". Nem podia. Todas as sondagens revelam tendências no momento em que são feitas. Não são um reles exercício de adivinhação, nem uma antecipação do resultado real. Até porque, como se sabe, há muita gente que tende a mudar o sentido de voto quando ouve repetidamente análises sem nexo e pressente arrogância desmedida.
3. Nuno Morna foi objectivo, apesar dum equívoco liberal. Se é certo que as sondagens são ferramentas e "não são um fim em si" - vá lá que alguém tem lucidez para distinguir resultados de apostas - dizer que "a grande sondagem será no dia das eleições" configura desvalorização abusiva de um dever cívico. Contudo, teve o mérito de definir metas, para recordar na noite eleitoral: "Se nos derem um deputado, consideramos que cumprimos com os serviços mínimos. Fora isso, para baixo é uma derrota".
4. Cruel foi também a posição de quem vai na frente, sem se deslumbrar: "Fico muito satisfeito. [O resultado] é animador, mas as sondagens são indicativas, não são uma conclusão, nem uma votação”, assumiu Miguel Albuquerque, focado no sucesso da coligação, sem dar palco aos extremismos e aos oponentes. Assim manda a estratégia até agora ganhadora.
5. O regressado Roberto Almada não perdeu o jeito. Assume ter "muito respeito pelas sondagens", pois revelam-se um “bom indicador para que se trabalhe para conseguir estar, de facto, de regresso ao Parlamento da Madeira”. Para quem gosta de complicar o que é fácil, o candidato do BE mostra o caminho.
6. Nota ainda para Miguel Castro (Chega) que indicia ter lido o ‘boa noite’ de ontem preferindo a reflexão à especulação, para Ricardo Lume (CDU), analista ponderado já que detectou que está posto de parte o cenário de bipolarização, contexto que anima Joaquim Sousa (PAN), antevendo que “a participação de um partido ambientalista no parlamento regional é sempre uma boa notícia". Não custa nada sonhar!