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Pragmatismo de tratado de 1373 viabilizou Aliança Luso-Britânica longa

Maria João Rodrigues de Araújo, presidente de Portugal-UK 650, e Sean Cunningham, historiador britânico.   Foto DR/Facebook
Maria João Rodrigues de Araújo, presidente de Portugal-UK 650, e Sean Cunningham, historiador britânico.   Foto DR/Facebook

A natureza generalista e pragmática do Tratado de Londres de 1373, que celebra esta semana 650 anos, propiciou a longevidade da Aliança Luso-Britânica, afirmou o historiador britânico Sean Cunningham.

"É uma espécie de aliança aberta, e é por isso que tem sido fácil mover-se ao longo dos séculos, porque não foi tão específica e preso naquele período de tempo com requisitos muito específicos", afirmou, durante uma apresentação do documento histórico nos Arquivos Nacionais britânicos, em Londres.

Cunningham, diretor do departamento de estudo sobre a época medieval, descreve o texto como sendo "puramente prático", sem envolver um casamento arranjado, como era hábito naquela altura, nem pedir ajuda para algo específico, como uma guerra. 

O Tratado de Londres, assinado em 16 de junho de 1373, é o primeiro a nível nacional entre o rei de Inglaterra e o rei de Portugal e solidifica outro firmado no ano anterior em Tagilde, distrito de Braga, entre os emissários do Duque de Lencastre, João de Gante, filho de Eduardo III de Inglaterra, e o rei Fernando I de Portugal.

Enquanto o Tratado de Tagilde, de 1372, visa sobretudo unir esforços para atacar o reino de Castela e Aragão, o Tratado assinado na Catedral de São Paulo, em Londres, por Eduardo III formaliza uma relação a nível nacional. 

Além de uma declaração de "amizade verdadeira, fiel, constante, mútua e perpétua" entre ambas partes, o texto determina que nenhuma deve fazer amizade com os inimigos ou rivais ou perseguidores da outra parte ou favorecer e ajudar esses inimigos.

O tratado define também que, se algum dos territórios de qualquer um dos reis for invadido por inimigos, os aliados irão ajudar os seus amigos.

Esta redação, vinca Cunningham, "trata de definir como é que a amizade vai funcionar no futuro", abrindo caminho a uma relação mais próxima e funcional em termos diplomáticos e comerciais, além dos militares.

A aliança luso-britânica foi reiterada e renovada por outros tratados ao longo de vários séculos, nomeadamente o Tratado de Windsor, em 1386, e o Tratado de Methuen, em 1703, sendo considerada a mais longa aliança diplomática em vigor.

O original do Tratado de Londres com 650 anos está guardado num cofre e em condições especiais nos Arquivos britânicos devido à importância e fragilidade.

Excecionalmente, vai estar exposto na quinta-feira na capela, em Londres, onde terá lugar uma cerimónia religiosa com a presença do rei Carlos III e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. 

A celebração dos 650 anos da Aliança Luso-Britânica estimulou os Arquivos Nacionais britânicos a recuperar uma série de documentos sobre as relações entre os dois países, nomeadamente relatos de pirataria e apelos à intervenção dos tribunais. 

O historiador Sean Cunningham revelou um projeto de investigação sobre a linguagem dos tratados e a forma como mudam e os seus aspetos legais, em paralelo com o tipo de implicações no quotidiano. 

"Há muito mais para descobrir, principalmente histórias e casos, para tentar tornar a história mais viva e pessoal, menos sobre a diplomacia e mais sobre como as pessoas viviam e negociavam e vivenciavam a amizade ou aliança em conjunto", garantiu.