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Oferta no ensino profissional deve responder melhor a necessidades do mercado

Foto Shutterstock
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Mais de metade dos cursos profissionais em Portugal pertence a apenas três áreas de estudo, segundo um relatório divulgado hoje, que sublinha a necessidade de a oferta formativa responder melhor às necessidades do mercado de trabalho.

Serviços, Engenharia, Indústrias Transformadoras e Construção, e Saúde e Proteção Social são as três áreas que, em Portugal, concentram a maioria dos cursos do ensino secundário profissional, de acordo com o estudo "Como valorizar o Ensino Secundário Profissional? Dilemas, Desafios e Oportunidades".

O trabalho realizado pela Edulog - iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo - em colaboração com a Universidade de Aveiro revela ainda que um terço da oferta formativa está relacionado com Ciências informáticas, Hotelaria e Restauração, sendo que 40% de todos os cursos são em escolas localizadas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

"A maioria das dificuldades reportadas na integração no mercado de trabalho (...) explica-se pela aparente inadequação das qualificações ao mercado de trabalho local", lê-se no relatório, em que é recomendado que a definição da oferta formativa priorize a empregabilidade e a valorização profissional.

Os investigadores admitem, no entanto, que o alinhamento com as necessidades do mercado pode nem sempre ser suficiente devido a mudanças rápidas e nem sempre previsíveis no mercado de trabalho.

Por isso, os cursos devem ser desenhados de forma mais elástica, para que possam ser integrados "em vários contextos e que combinem, quer as necessidades atuais, quer os desafios estratégicos futuros".

"Por outro lado, o próprio curso deve ter capacidade de evoluir ao longo dos três anos, reinventando-se, sempre que necessário, para melhor corresponder às novas necessidades do mercado", acrescenta.

Também as empresas podem assumir uma participação ativa na definição dos objetivos de cada curso do ensino profissional, que está já "numa situação privilegiada de contacto direto e regular com o mercado de trabalho".

"Se empresas e potenciais empregadores colocarem desafios às turmas do ensino profissional e participarem mais ativamente no desenho de atividades e definição de prioridades no ensino-aprendizagem, é mais provável que a preparação dos estudantes se molde às necessidades mais prementes do mercado de trabalho, integrando as alterações que se estejam a registar, e tornado os diplomados mais versáteis e atualizados", refere o estudo.

Para David Justino, do Conselho Consultivo da Edulog, as empresas, à semelhança do ensino superior, podem também ajudar a responder a outras carências ainda sentidas no ensino profissional, como a escassez de quadros técnicos especializados para lecionarem nos cursos.

Essa proximidade deve ser igualmente reforçada no que respeita à experiência profissional, ao longo do curso, dos alunos cuja prioridade seja ingressar no mercado de trabalho. 

"Não basta às escolas estabelecer protocolos com as empresas se isso não se traduzir em partilha de conhecimento e em desenvolvimento de competências profissionais em benefício dos alunos. Mais do que protocolizar relações importa desenvolver, onde tal é possível, soluções de 'apadrinhamento' empresarial. As escolas beneficiam, as empresas também, mas são os alunos que retiram maiores dividendos para o seu futuro profissional", defendeu David Justino, em resposta escrita à agência Lusa.

Mas nem todos os alunos do ensino profissional saem dos cursos diretamente para o mercado de trabalho e muitos passam ainda pelo ensino superior.

No sistema de acesso permanecem, no entanto, desigualdades que importa corrigir, uma vez que o modelo de acesso especial a estudantes pela via profissional, apesar de um passo importante, está condicionado a vagas em cursos específicos.

Os investigadores recomendam, por outro lado, a identificação de formas mais ágeis de acesso e integração nas universidades e politécnicos, através da conjugação do estudo com atividade profissional, importante para permitir o acesso de estudantes oriundos de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos.

"Muitos salientam que os apoios sociais não são adequados às suas situações familiares ou ambições pessoais", refere o relatório, acrescentando que "o atual estatuto do trabalhador-estudante é insuficiente para ajudar estes diplomados a concretizar os seus planos académicos, e a abertura do mercado de trabalho para apoiar os trabalhadores-estudantes é casuística e muito variável".