Sete ponchas para aumentar problemas na vida
A quantidade e a dimensão dos problemas diz sempre mais sobre as ‘ponchas’ que andamos a tomar do que sobre os problemas que acreditamos ter.
Gosto muito - da teoria à prática - do ‘Jogo Interno’, um conceito desenvolvido por W. Timothy Gallwey. O ‘Jogo Interno’ está relacionado com a forma como abordamos mental e emocionalmente o que fazemos e como o fazemos. Ou seja, o que está a acontecer dentro de nós, a cada momento. Naturalmente isso inclui a nossa atitude interna, a autoestima, a autoconfiança, a forma como lidamos com pressões, erros, como construímos as nossas vitórias e também os nossos problemas, que tantas vezes nos conduzem e estrondosas derrotas.
“Sou o meu pior inimigo. Normalmente, sou eu que me derroto a mim mesmo.” W. Timothy Gallwey
Quem conhece a história da Alice no País das Maravilhas, lembra-se, certamente, da antecâmara, onde existem frascos com ‘poções mágicas’ que dizem: “toma-me”. Vivendo na Madeira, a ilha da famosa e (para muitos) apreciada poncha, vou “substituir” as ‘poções mágicas’ pela bebida da terra. Ao tomar as ditas poções, as personagens da história mudam de tamanho. O mesmo acontece com os nossos problemas. Às vezes, a nossa percepção diz-nos que os nossos problemas estão a esticar, a encolher, a engordar ou até, a minguar. Já a ciência das emoções e a neurolinguística, mostram-nos que há “ponchas” (estratégias pessoais e coletivas) especiais que ampliam, e muito, os problemas pessoais. Saem sete ‘ponchas’ deliciosas para aumentar problemas:
1. A poncha da Negação
Diz o ditado que o mais cego é o que não quer ver. Acontece também, quando teimamos, arrogantemente, em achar que não deveríamos ter na vida um determinado problema ou desafio (para quem prefere esse termo). Quando teimamos em ver o problema como um obstáculo no caminho em vez de o recolher como um tesouro. E claro, aquilo a que se resiste, persiste!! Ou seja, os obstáculos não só não desaparecem como aumentam em número e proporção.
2. A poncha da Expectativa
Fomos muitos, os que crescemos debaixo do olhar atento das expectativas, sobretudo dos pais e adultos de referência. Expectativas sobre quem deveríamos ser ou tornarmo-nos, em vez da pessoa que realmente somos. Acabamos sob o efeito dessa ‘poncha’ e vamos criando expectativas relativamente aos outros, ao que vem a seguir, ao que vamos ter e ao que nos vai acontecer. E este é o primeiro passo para a desilusão. Tomar a poncha das expetativas é beber o veneno das relações.
3. A poncha do Piloto Automático
95% da nossa vida é comandada pelo inconsciente. Vivemos, maioritariamente, em piloto automático. Havendo feridas por sarar, traumas para acolher, integrar e transcender, podemos viver afastados do nosso centro, dos nossos recursos, viver em desequilíbrio e reagir às situações com luta, fuga ou congelamento. Ora, com esse alarme ligado em permanência o problema ganha dimensões assustadoras.
4. A poncha do Hiperfoco
É impressionante a capacidade humana para criar um intenso estado de atenção para com algo em particular. E é assim que colocamos os problemas na mira da lupa, dedicando-lhes 24 horas de atenção plena, como se nada mais existisse ou fosse importante à face da terra. E claro, os problemas amplificam-se, e muito!
5. A poncha das generalizações, omissões e distorções
Esta poncha é um três em um! Construímos os nossos problemas à medida. Ou seja, o que dizemos ser um problema é o resultado das histórias que nos contamos. Portanto, não reagimos à “realidade” (que em neurolinguística dizemos ser a estrutura de referência externa), reagimos sim, através da comunicação verbal e não verbal (que em neurolinguística chamamos de estrutura de superfície) à nossa própria criação subjetiva da realidade (a estrutura profunda). Só que entre a estrutura de referência (o território) e a estrutura profunda (o nosso mapa do mundo) há um processo de filtragem feito à base de omissões, generalizações e distorções.
6. A poncha da Comparação
Mais um ditado popular: a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha. Isso e aquela mania de apontar o dedo ou bater com a mão no peito, garantindo que os outros não passaram pelo mesmo que nós, que não sofreram como nós, que se portaram muito pior e então, castigadores, rogamos-lhes uma espécie de praga, dizendo que mereciam um problema como o nosso...
7. A poncha da Autoreferencialidade
Podemos viver centrados no nosso umbigo e acreditarmos ser tão importantes quanto o centro do universo. E claro, tudo conspira contra nós. Esta escolha faz-nos esquecer que estamos rodeados de pessoas que poderiam ser âncoras se estivéssemos menos autocentrados. Esta poncha, quando bebida sem moderação, deixa-nos, garantidamente, isolados e sozinhos. É óptima para nos fazer crer não que somos importantes, e que o que somos é, afinal, as piores pessoas do mundo.
Nós não vemos a realidade como ela é, mas sim como nós pensamos e somos. O mundo é assim porque nós pensamos e somos assim. Mudamos de ‘ponchas’?!