Foi o mau tempo o único responsável pelo encerramento dos percursos pedestres da Madeira?
Desde o início da semana que o acesso aos percursos pedestres classificados da Região tem sofrido alguns condicionamentos. Neste momento mantêm-se fechados nove desses circuitos.
Na semana passada, com a previsão de mau tempo para a Madeira e o Porto Santo, fruto da passagem da depressão Óscar, nos dias 5 e 6 de Junho, o Governo Regional, através dos vários organismos por si tutelados, tomou diversas medidas com vista à mitigação dos efeitos desta tempestade, sobretudo no que à segurança diz respeito.
Foi num contexto de aviso vermelho para ocorrência de chuva forte nas regiões montanhosas que, no domingo antes do mau tempo, dia 4 de Junho, o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza procedeu ao encerramento de todos os percursos pedestres classificados da Região, pelo menos nos dias 5 e 6, ao mesmo tempo que desaconselhava qualquer “actividade lúdico/desportiva nestas zonas” e recomendava “à população local e turistas a não se deslocarem para estas zonas serranas enquanto vigorarem alertas meteorológicos”.
Nove percursos pedestres da Madeira continuam encerrados
Em virtude da passagem da depressão Óscar pela Madeira, ainda se encontram encerrados nove percursos pedestres, segundo informação avançada hoje pela Secretaria Regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas.
Os condicionamentos no acesso a alguns trilhos perduraram além do período inicialmente previsto, mantendo-se encerrados, à data, nove dos 34 percursos pedestres classificados. Mas será que todos estes percursos se mantêm encerrados como consequência do mau tempo, tal como veiculado, no último sábado, pela entidade gestora dos mesmos?
É certo que entre as pouco mais de três dezenas de percursos houve alguns que sofreram danos com a muita chuva e o vento que se fizeram sentir no início da semana passada, conforme oi algumas vezes confirmado por Manuel Filipe.
O presidente do conselho directivo do IFCN, na última quinta-feira, referia ao DIÁRIO que o mau tempo originou algumas pequenas derrocadas em algumas veredas turísticas, bem como destruiu alguns varandins ou danificou algum piso. Aquele responsável adiantava quem, à data, já tinham sido vistoriados alguns dos quase 200 quilómetros de trilhos à responsabilidade daquele instituto, devendo os vários percursos reabrirem faseadamente, à medida que estivessem reunidas as condições de segurança necessárias à utilização dos mesmos.
Nos dias que se seguiram ao mau tempo os percursos classificados foram abrindo aos poucos. Foi o caso da Levada do Caldeirão Verde, um dos primeiros a reabrir, ou das Levadas das 25 Fontes e do Furado, que ficaram de novo transitáveis na passada sexta-feira.
Entretanto, permanecem encerrados os percursos PR 1 - Vereda do Areeiro; PR 3 - Vereda do Burro; PR 3.1 - Caminho Real do Monte; PR 4 - Levada do Barreiro; PR 12 - Caminho Real da Encumeada; PR 15 – Vereda da Ribeira da Janela; PR 17 - Caminho do Pináculo e Folhadal; PR 20 - Vereda do Jardim do Mar e PR 23 - Levada da Azenha.
Mas nem todas as situações se devem ao mau tempo. Alguns destes percursos já estavam encerrados antes mesmo do temporal da semana passada. É o caso, por exemplo, do Caminho do Pináculo e Folhadal, da Vereda do Jardim do Mar e da Levada da Azenha, situação que foi confirmada ao DIÁRIO pelo próprio Instituto, no final da semana passada.
No caso do Caminho do Pináculo e Folhadal, estão em curso alguns trabalhos de melhoramento de parte do percurso, onde se inclui a colocação de varandins, estando o trilho encerrado há, pelo menos, quatro meses, já que em Fevereiro último o acesso não era permitido.
No caso da Vereda do Jardim do Mar, o trilho está encerrado também há alguns meses, por não apresentar condições de segurança. Não há informação da existência de trabalhos em curso, embora seja certo que a vegetação invade grande parte do percurso. Esta situação já foi, inclusive, noticiada nas páginas do DIÁRIO, fazendo eco das críticas de alguns guias que lamentam o estado de abandono do percurso.
Quanto à Levada da Azenha, o percurso pedestre classificado está encerrado igualmente há vários meses, já que a Junta de Freguesia do Caniço, entidade responsável pela manutenção daquele trilho, tem em curso um projecto de reabilitação geral, devendo reabrir até final do Verão com algumas novidades, situação confirmada ao DIÁRIO por Milton Teixeira. O presidente da Junta frisou que esta intervenção está orçada em 48 mil euros, verbas provenientes do orçamento da Junta e do PRODERAM.
Três dos demais percursos encerrados são geridos pela Câmara Municipal do Funchal (CMF), através do Parque Ecológico do Funchal (PEcoF), nomeadamente a Vereda do Burro, o Caminho Real do Monte e a Levada do Barreiro. Estes trilhos têm sido objecto recorrente de intervenções, mas na semana passada, consequência da depressão Óscar, ficaram de novo intransitáveis.
A CMF, segundo informação disponibilizada ao DIÁRIO pelo IFCN, já tem em curso a limpeza com vista à reposição da normalidade, que deverá verificar-se no decorrer desta semana. No caso da Vereda do Burro foi detectada a queda de árvores e de pedras de pequenas dimensões, o mesmo acontecendo com o Caminho Real do Monte. Na Levada do Barreiro ocorreram três deslizamentos de terra que afectaram o canal e o patamar de circulação numa extensão significativa, não havendo indicação quanto à reabertura do percurso.
Mesmo com os percursos encerrados, muitos têm sido os caminhantes a desrespeitar as regras, ultrapassando as 'barreiras' colocadas pelo IFCN e não acatando a sinalização. Ainda na passada sexta-feira, uma cidadã estrangeira acabou ferida enquanto realizada o percurso entre o Pico do Areeiro e o Pico Ruivo, trilho que permanece encerrado desde o dia 4 de Junho. Nestas situações, embora com punição prevista na legislação em vigor, as coimas que variam entre os 250 euros e os 10 mil euros, consoante estejam em causa pessoas singulares ou empresas, não têm sido postas em prática pelas entidades competentes.
Perante o referido, facilmente se deduz que nem todos os percursos pedestres classificados que permanecem encerrados devem essa condição ao mau tempo.