A novidade e a gestão das expectativas
AA meados de Abril li no Diário uma notícia, que se referia à apresentação de um Festival de música - … “em nova estreia no cartaz que compõe a 10ª edição que teria data marcada para o dia 6 de Maio, no Paul do Mar.
Directamente de Santarém, mais concretamente de Glória do Ribatejo, chegam os “The Pilinha” que se juntam à anunciada banda de tributos reggae “BigUp” e à roda de samba da "Orquestra Bamba Social”…
Confesso, que o sugestivo nome os “The Pilinha”, chamou a minha atenção e por isso continuei a ler a notícia.
Continuo a citar: …”Para os mais desatentos, (verdadeiramente o meu caso), os sete elementos deste grupo fundado no Verão de 2006 têm percorrido praticamente tudo o que é festa de Norte a Sul do País - mas ainda não tinham recebido qualquer convite, até agora, para actuar na Madeira (pensei, mas que pena, ficamos sempre para o fim)” … A minha curiosidade aumentou e continuei, avidamente agora, a ler a notícia atentamente; assim e citando …”os artistas portugueses também têm qualidade e os “Despe & Siga” (outra banda, parece que de grande sucesso), servem mesmo de inspiração aos “The Pilinha”. O DIÁRIO chegou à fala com um dos fundadores da banda, Costinha, que nos confirmou a influência e explicou o porquê do grupo sentir a necessidade de preencher este vazio (compreendi e realmente, convenhamos, uma “Pilinha” a encher um vazio, tal seja o vazio, há vazios e vazios, não me parece o mais adequado e eficaz, mas necessidades são necessidades)”…
Aqui, devo confessar que a minha curiosidade já estava ao rubro; pensei, não posso perder isto de maneira nenhuma…!
O nome, o porquê de ser um diminutivo, sem dúvida, aguçaram o meu interesse e na recolha de elementos descobri, que já houve bandas com designações, no mínimo estranhas (pelo menos para mim), como “O Mete e Tira" ou o “Faz e Sacode”. Fiquemos por aqui, pois realmente a imaginação musical, hoje, é digamos, refinada, muito diferente e com uma enorme preocupação de “preencher vazios"...!
Seriamente, gosto muito de música, de vários tipos e géneros e parte do meu dia-a-dia é, definitivamente, acompanhado musicalmente. Descobri pela primeira vez a sensação de gostar de um conjunto de sons, quando tinha uns 6/7 anos de idade, em casa de um vizinho (Eng. Jorge de Castro distinto madeirense, exímio mergulhador e percursor da fotografia submarina), com a canção "Only you" dos The Platters. Ainda hoje, no topo das minhas favoritas.
Partilho e revejo-me, indubitavelmente, na definição de Música como uma forma de arte que se constitui na combinação de vários sons e ritmos, seguindo uma pré-organização ao longo do tempo; tenho estado a escrever ao som da Smooth FM, que é a minha estação de rádio portuguesa favorita.
Aqui chegados, voltemos "ao assunto" que me trouxe aqui, a actuação dos "The Pilinha"...
Iniciemos a experiência com os preliminares, fui desse tempo e patamar, pese a inspiração aqui, ser da banda "Despe & Siga". Avancemos.
Em primeiro lugar, convencer a minha Mulher a me acompanhar nesta digressão exploratória, porque diferente e musical.
Inicialmente e depois de alguma explicação (para aplanar o caminho), a proposta não foi bem acolhida, tenho de dizê-lo e a primeira reacção foi: - Cruzes, Credo...! Ah! rapaz...! (o tratamento de "ah rapaz...!", normalmente e ao contrário do que possa parecer, não me é favorável, nem vantajoso...
Mas, 44 anos de casamento, permite-nos já e como costumo dizer um relacionamento "de família" e muita cumplicidade. Foi o que valeu.
Comprados os bilhetes, foi gerir as expectativas, para a chegada do grande dia e poder apreciar a novidade (no nosso caso ) e ansiada experiência cultural e musical.
Ultrapassados os 70 anos, tenho para mim que esta abertura e disponibilidade para "a novidade", é a melhor prova de jovialidade e juventude que nesta fase da vida, sabe mesmo bem. É o que se chama viver e pensar "fora da caixa"!
No dia, seguimos com alguma antecedência para "arranjar lugar" e aí chegados preparámo-nos para desfrutar do concerto, conforme planeado e no meu caso particular, para satisfazer a curiosidade de ver ao vivo os "The Pilinha"...
Não quero abusar do espaço que me é concedido e por isso vou tentar ser sintético.
Para começar cumprimentar e felicitar a Organização (Maktub), é que em termos empresariais criar e pôr de pé "projectos", tem muito que se lhe diga. Quando corre tudo sobre rodas, até parece fácil; mas, convém não esquecer que normalmente estão muito esforço e trabalho envolvidos.
Gostámos (o gostámos é mais gostei...), da aventura e "avaria", bem como de alguma da música que ouvimos da "Orquestra Banda Social" e da "BigUp" também do ambiente, que não sendo o nosso, conseguimos integrar, conforme exemplo que passo a descrever:
- A certa altura um indivíduo tipo "habituée" e se calhar curioso por ver estas "aves raras", interpelou-me: - Então tasse bem? Oh! Meu, estás curtindo a música? Respondi o mais convicto que pude, tentando usar a mesma linguagem... Oh! Ya! Mano...olhou para mim espantado e simultaneamente com satisfação e entusiasmo levantando de imediato o polegar direito em sinal de aprovação e cumplicidade, ao que correspondi de forma idêntica! Escuso de dizer que a minha Mulher olhava para mim, espantadíssima (para que se perceba melhor não toco em álcool há mais de 15 anos)..., mas, como sempre ao longo destes longos anos, serena, seguindo-me e acompanhando-me, indefectivelmente! Fantástico!
Quanto à actuação dos "The Pilinha", confesso não é o meu género e por respeito aos que gostam, não vou fazer grandes comentários: - até porque..."Gostos não se discutem"...!
No regresso ao Funchal e enquanto no rádio tocava o fado da Amália Rodrigues "Que Deus me perdoe"... (nem de propósito...), não pude deixar de pensar, que a performance é idêntica a muitas coisas que se passam e temos neste momento no país, de que são grandes exemplos a TAP e o Governo...
A propósito, veio-me à cabeça o provérbio... "Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré"...
Por analogia, teríamos... "Quem nasceu para Pilinha nunca chega a............" É isso e ri-me sozinho, a minha Mulher continuava, muito silenciosa e na "onda dela" tipo, como se fosse sozinha no carro ... Estão a ver? E cá para nós, com muita razão tenho de reconhecer...!