O Óscar e o outro
Da outra fatídica vez havia uma reunião no Funchal. Encontrava-me na Calheta. O percurso de manhã já foi preocupante. Estava perante o início de uma coisa feia. Chegando, aconselhei todos os presentes a voltarem a casa.
O temporal desabou célere. Na Ribeira Brava, no regresso, já não se podia passar. E tinha deixado a família do outro lado. Não havia comunicações. Não sabia como estavam. Apesar de desaconselhado, já às 3 da manhã, meti-me num jipe e resolvi arriscar. Passei por tuneis alagados e cheios de pedras, por ribeiras que tinham extravasado, pela destruição que a cada passo surgia à minha frente.
Na altura a chuva caiu num dia, agora em dois. Faz substancial diferença. Mas ficar-se por aqui é pura leviandade. É preciso acrescentar o trabalho feito nas ribeiras, a manutenção, as limpezas feitas regularmente e os açudes, a montante, que ninguém vê, mas que são um contributo enorme para evitar o transporte de sólidos de grande porte pelas águas evitando o transbordo.
A proteção civil de hoje tem outros meios. A nível da prevenção, preparação dos vários intervenientes e da capacidade material disponível. Os avisos meteorológicos preveniram com antecedência, permitindo que os diversos protagonistas, autoridades regionais, municipais, de segurança ou de socorro, refletissem no que havia a fazer para salvaguardar pessoas e bens. E agiram com prontidão e competência.
No “20 de fevereiro” a devastação trouxe a tragédia humana com 47 vítimas e 600 desalojados. Depois, foram os realojamentos, as limpezas, as negociações com a república, a reconstrução. Que prossegue até hoje. E que sempre contou com muita gente capaz como mostra o resultado deste novo temporal. Um alívio grande.