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Exagero da imprensa prejudicou comunidade portuguesa após violação há 40 anos

Quem o diz é o filósofo Onésimo Almeida, que se destacou na defesa da comunidade portuguesa após a violação de uma mulher nos Estados Unidos por quatro conterrâneos

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O filósofo Onésimo Almeida, que se destacou na defesa da comunidade portuguesa após a violação de uma mulher nos Estados Unidos por quatro conterrâneos, há 40 anos, lamenta que a imprensa tenha insistido numa "versão exagerada", que prejudicou a comunidade.

Escritor e professor universitário, Onésimo Almeida vive nos Estados Unidos desde 1972 e acompanhou o caso de Cheryl Araújo, uma luso-americana que foi violada no bar Big Dan's, em New Bedford, por quatro portugueses.

E foi-se apercebendo que -- tal como viria a ser demonstrado em tribunal -, alguns aspetos que tornaram a história mais sórdida, e por isso alimentada pela comunicação social local, depois nacional e até internacional, não eram verdade, como o facto de o crime ter sido aplaudido e incentivado por muitos outros portugueses presentes no bar.

Em declarações à agência Lusa, reconhece que o caso causou danos na comunidade portuguesa, principalmente "o estereótipo" de que os portugueses eram "uns machistas inveterados que não podem ver uma mulher sem tentarem comê-la, pelo menos com os olhos".

O caso, adiantou, foi "uma versão exagerada da história posta a circular por um jornal que acreditou num relato que chegou à redação altamente exagerado, mas que fazia sentido porque encaixava perfeitamente na ideia que na comunidade americana se tinha de uma comunidade portuguesa conservadora e machista onde a mulher era uma pessoa de segunda classe que não podia entrar num bar".

E foi para evitar danos ainda maiores que, assim que teve conhecimento de que iria ser feito um filme sobre este caso ("Acusados", protagonizado por Jodie Foster, 1988), Onésimo Almeida participou na criação da comissão Portuguese-American Congress, a qual escreveu uma carta à Warner Bros para evitar que fosse feita referência à nacionalidade dos violadores.

Na comunidade portuguesa em New Bedford, o tempo revelou-se mesmo o melhor remédio. "Isto foi há 40 anos e por isso muita gente já morreu. Felizmente o tempo encarrega-se de passar um pano por cima da memória das pessoas e já pouca gente se lembra do caso".

Além disso, acrescentou, "de então para cá, os meios de comunicação já se fizeram eco de tantos acontecimentos muito mais horrorosos", comentando "Ao pé deles, o caso Big Dan's é uma história de adolescentes".

Outros casos, os mesmos erros, na ideia de Onésimo Almeida, para que "a comunicação social nunca aprende nada com o passado".

"Não tem tempo de investigar a sério e tem de ir na onda. Lamento dizer isto, mas tenho décadas de rodagem. Os mais velhos já estão fora de circulação e os mais novos não querem saber da experiência deles. Estão prontos para cometer os mesmos erros. Têm de publicar e, se escrevem contracorrente, os jornais ignoram porque têm de alimentar os interesses dos leitores. Claro que há exceções e nem tudo é assim tão branco-e-preto. Mas esse tom é generalizado", afirmou.

Para este escritor e professor catedrático na Universidade de Brown, nos Estados Unidos, o erro da comunicação social no caso Big Dan's foi "não prestar atenção ao que se lhe dizia em contrário, pois as pessoas que tentavam demover os jornalistas eram membros da própria comunidade e, por isso, vistas como partilhando da mesma visão do mundo e vítimas dos mesmos preconceitos".

"Daí que a comunicação não se preocupasse com investigar a verdade que essa minoria lhe transmitia. Acreditou facilmente na versão original posta a circular, até porque essa era a que interessava mais aos jornais por ser essa a que, no fundo, o público queria ler. Qualquer versão mais branda não interessaria a ninguém", lamentou.