Mais vale prevenir do que remediar
Ontem, 1 de junho, celebrou-se o Dia da Criança, estabelecido oficialmente em 1950 na sequência do congresso da Federação Democrática Internacional das Mulheres, realizado em 1949, em Paris. Portugal, à semelhança de vários países, adotou este dia com o objetivo de sensibilizar para os direitos das crianças e para a necessidade de promover uma melhoria das condições de vida, tendo em vista o seu pleno desenvolvimento. Não existe uniformização de data para a celebração dos direitos das crianças, cujo dia oficial considerado pela ONU é 20 de novembro. Contudo, o seu objetivo será sempre o de promover os direitos e o bem-estar de todas as crianças, onde quer que estejam.
Num mundo cada vez mais digital, orientado para a competição e produtividade, com, por vezes, algum distanciamento emocional entre os membros da mesma família, é, às vezes, difícil ser criança. A adultização infantil é uma realidade cada vez mais presente, colocando as crianças mais vulneráveis em situações de abuso de vários tipos. Por sua vez, as várias formas de violência cada vez mais próximas, à distância de um clique ou duma foto, provocam estragos no desenvolvimento das crianças, quando lhes falta, pelo menos, uma figura adulta de confiança que as oriente neste processo de crescer e aprender, que nem sempre é fácil.
Educar, desde cedo, para a paz e para o respeito pelas diferenças e pela igualdade e equidade, é fundamental para que as crianças se tornem pessoas adultas responsáveis e conscientes. O mundo do amanhã pertence-lhes, mas carrega consigo todas as cicatrizes do passado e presente. Consciencializar para a prevenção da violência em todas as suas formas, para a defesa dos direitos humanos, para o respeito pela Terra e para um desenvolvimento sustentável, é contribuir para um mundo melhor. É combater a raiz da violência, e não remediar apenas quando as desgraças acontecem, como os casos de violência doméstica e os homicídios associados.
É um trabalho cada vez mais necessário, desenvolvido duma forma sistemática, em conjunto por todos os agentes educativos e envolvendo também as famílias, para permitir que as crianças coloquem a mão na massa, se expressem e opinem. Através deste trabalho contínuo e coletivo, a médio e longo prazo, é possível contribuir para uma mudança de mentalidades e de comportamentos no que diz respeito à violência e ao respeito pelos direitos humanos.
O projeto ART’THEMIS+ trabalha a prevenção primária da violência e a promoção dos direitos humanos e da igualdade nas escolas, através de ferramentas artísticas e de estratégias pedagógicas de educação informal, em conjunto com os/as docentes. Estamos em algumas escolas da Região desde 2018. Hoje, 2 de junho, será feito um encontro de escolas, presencial, onde teremos turmas a apresentar os seus trabalhos ao vivo, e uma zona de exposição com todos os trabalhos desenvolvidos por outras turmas. 40 turmas de 10 escolas diferentes participaram no projeto neste ano letivo. Eles e elas tiveram muito para dizer, para escrever, desenhar, pintar, representar, dançar, cantar e construir. Querem um mundo melhor, mais justo para todas as pessoas, onde sejamos apenas seres humanos, com direitos e deveres, com as diferenças que nos fazem únicos, e onde haja, sobretudo, respeito. Todos os dias, eu aprendo com estas crianças, algumas delas com vivências já bastante pesadas, mas com uma força, alegria e esperança no futuro enternecedoras. Que nos deixemos contagiar por essa energia e possamos colaborar e orientar, surfando juntos na vida em constante transformação.