Aumentar os preços da água resolveria casos de fornecimento excessivo como o detectado pela ARM em Santa Cruz?
A ARM – Águas e Resíduos da Madeira, SA - veio, ontem, lançar um alerta público devido um “fornecimento de água muito acima do habitual a alguns reservatórios do concelho de Santa Cruz. Será que aumentar o preço da água resolveria o caso, como sugere um leitor do DIÁRIO?
A própria ARM atribui o aumento excessivo de fornecimento de água a rupturas na rede de distribuição do Município de Santa Cruz. Neste município, a ARM é o grossista (em alta), entrega a água à Câmara Municipal, que é dona e responsável pela rede de distribuição.
Essa água, que é fornecida pela ARM em alta, aumentou 4% de 2022 para 2023, para Santa cruz e para os demais clientes da ARM. Passou de 0,3166 euros para 0,3294 euros por metro cúbico. Esse aumento, como em outros anteriores (nos anos da pandemia o preço manteve-se) não teve qualquer efeito na redução do consumo.
Mas vejamos o que acontece nos concelhos onde a ARM é, em simultâneo, grossista e distribuidora: Ribeira Brava; Câmara de Lobos; Machico, Santana e Porto Santo.
O perfil de gastos de água por habitante, colocada nas respectivas redes, é muito diferente. Mas as grandes diferenças vão, mais ainda, para o que é fornecido à rede e para o que é consumido. Vejamos, a título de exemplo, o que aconteceu em 2019.
Em Câmara de Lobos, foram fornecidos à rede 441 litros de água por habitante e por dia, mas cada habitante só consumiu 159 litros. Na Ribeira Brava foram 406 e 184; em Machico foram injectados 914 e consumidos 217; em Santana entraram na rede 874 e consumidos 182; e, por fim, no Porto Santo foram fornecidos 558 e consumidos 321.
A diferença entre o que é fornecido à rede e o que é consumido dá-nos a dimensão das perdas. Não será ao acaso que o Porto Santo, com uma das redes mais novas (ainda que a envelhecer, o que se nota na evolução das perdas) é o único concelho com perdas inferiores a 50%. Já Machico e Santana, sem investimentos de vulto nas redes durante anos, registam perdas superiores a 70%.
Câmara de Lobos, também sem investimentos durante muitos anos, mas com avultadas somas gastas nos últimos, começa a reduzir perdas, que, ainda assim, rondam os 60%.
Na Ribeira Brava, que partiu de uma situação semelhante, mas que mais cedo começou a investir na renovação da rede, mesmo antes da adesão à ARM, está numa situação melhor, com perdas a rondarem os 55%.
Assim, sem excluir o efeito que um aumento de preços pudesse ter numa eventual redução do consumo, não é verdade que o desperdício sofresse uma redução significativa, porque a principal causa são as perdas nas redes (nos concelhos ARM de 42 a 79%).