Crónicas

Dia da mãe

Nunca nenhuma homenagem será suficientemente justa para fazer jus ao que elas representam

Por muito que alguns tentem mudar o conceito de família, com a desculpa da evolução e da modernidade mãe é mãe. É incrível o poder delas. A capacidade de sacrifício, o altruísmo, a dedicação, o amor. Quem tem a sorte de ter uma como a minha tem tudo. Nunca nenhuma homenagem será suficientemente justa para fazer jus ao que elas representam na sociedade. Acho que não há sentimento maior do que a pessoa que tem um filho do seu próprio corpo. A natureza a fazer o seu papel. Numa altura em que o mundo parece tão estranho, com pandemias e guerras, inteligência artificial e uma vida no digital que parece correr quase paralelamente à vida real elas lá estão, silenciosas e guerreiras a proteger os seus. Acredito que quem perde a sua nunca mais se completa. Nunca mais é inteiro. Tantas vezes não temos paciência para elas, achamos que são chatas, que estão sempre a dizer a mesma coisa, que por vezes dizem coisas que sabemos ser verdade mas preferiamos não enfrentar, mas no momento da verdade, mesmo que não estejamos tão próximos ou que existam alguns diferendos, quando tudo parece falhar, lá estão elas, a dar a mão, a dar colo e a dar o apoio. Sem fazer perguntas, sem apontar o dedo, sem querer encontrar razões. Podem querer arranjar os formatos de família que quiserem, mas o papel de uma mãe é único. É inexplicável.

Em 2020, ano da pandemia, segundo os dados da pordata.pt por cada 100 casamentos existiram 91,5 divórcios. Embora no ano seguinte o valor tenha voltado à taxa normal de cerca de 60, não deixa de ser um número brutal. Às vezes olho para o lado e pergunto-me porque é que certas pessoas se casam. Será pela festa? Pela pressão da sociedade ou da família? Por interesse? Acho sinceramente que as pessoas cada vez têm menos paciência umas para as outras. São muito egoistas. Não fazem o mínimo esforço para tentar arranjar um equilíbrio. Fartam-se facilmente, mudam de gostos. Todos os casais passam por problemas, basta olharmos à nossa volta. Como todas as pessoas, individualmente passam por problemas. É na forma como estamos dispostos a comunicar que se encontram os caminhos. É surreal como as pessoas falam tão pouco umas com as outras. Vão chutando as coisas para baixo do tapete enquanto olham para o telemóvel à espera que tudo passe. Conheço tantos casais que aparecem felizes e contentes nas redes sociais e depois não falam em casa. Não falam do que sentem, não abrem o jogo para que se possa chegar a um entendimento. Quando dão por ela já foram. Atingem o limite e preferem mandar tudo ao ar e sair. Diz o escritor Mia Couto “nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.” É tão verdade.

É tal o absurdo institucional que parece comédia. Aquilo a que temos assistido ultimamente, com Governo e Presidente da República há mistura mostra-nos a falência de um regime. Nunca vi tanta gente a olhar para os partidos e a não se identificar com nenhum. A votar no menos mau. Não há referencias nem estadistas, as pessoas são assumem responsabilidades nem dão a cara e cada vez a política é também menos apelativa para os que podiam de facto fazer a diferença. Devíamos começar a refletir seriamente nisto tudo. Somos milhões que não nos revemos em ninguém. Isto é sério e grave. As pessoas com capacidade para fazer a diferença não deixaram de existir, pura e simplesmente não querem estar nem próximos da política. Há que encontrar mecanismos para cativar outro tipo de pessoas e tentar provavelmente arranjar outro sistema. Não é só em Portugal infelizmente. É um pouco por todo o mundo. Não há lideranças, não há quem nos mostre o caminho através do exemplo. As pessoas sentem-se perdidas e já não acreditam em nada. E assim vão crescendo os partidos extremistas, alimentando-se do desespero dos cidadãos. Como se resolvessem alguma coisa. Todos os dias ouvimos uma nova trapalhada. E não ponho só as culpas no PS. Não acho que fosse assim tão diferente se tivessem lá outros. Acho que estamos a viver uma crise de identidade profunda e que isto ainda vai descer mais fundo. Não há ideias, não há soluções, não há uma visão estratégica a médio prazo. É tudo para tapar buracos. Que nos valha ainda para quem tem, o colo da nossa mãe. Resta-nos pouco mais.