Eleitores turcos votam pela primeira vez em Portugal para eleições de 14 de Maio
O embaixador da Turquia em Lisboa, Murat Karagöz, regozijou-se hoje com a afluência de dezenas de eleitores para votar nas presidenciais e legislativas de 14 de maio no seu país, que disse representar "o seu compromisso com a democracia".
"Estou muito satisfeito com a afluência dos cidadãos turcos. Eles estão a demonstrar o seu compromisso com a democracia", disse à Lusa Murat Karagöz, que apresentou há dois dias as suas cartas credenciais ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
"É um dia emocionante para mim também. Vejo muitos jovens, não apenas estudantes. Em primeiro lugar vêm os jovens, a maior parte deles com o Erasmus, outros que continuam os seus estudos de licenciatura, alguns deles para programas de mestrado e doutoramento e há depois há também alguns nómadas digitais", explicou o diplomata.
Alguns dos cidadãos turcos que vivem em Portugal trabalham para empresas privadas.
"Alguns deles são médicos, empresários, que vivem em muitas partes diferentes da Europa que vêm para Portugal e aqui se instalam e também há algumas pessoas que vieram com o visto 'gold' [visto dourado] e que beneficiaram com isso. Alguns deles já têm cidadania portuguesa e outros aspiram a tê-la", acrescentou.
"Em suma, é um grupo misto, mas jovem, dinâmico e empenhado na democracia turca", frisou.
Pela primeira vez na história das eleições turcas, os eleitores podem votar em Portugal e para esta dupla votação estão registados 1.500 votantes, de entre os cerca de 3.000 cidadãos turcos que formam a comunidade turca residente em Portugal.
As assembleia de voto está aberta hoje e domingo entre as 09:00 e as 21:00 e as urnas serão depois enviadas para a Turquia, onde será feito o apuramento.
Safak, de 23 anos, que aguardava a vez de votar, disse à Lusa que chegou a Portugal há oito meses e que integra o programa Erasmus.
"Gosto muito de estar em Portugal. Lisboa é uma cidade muito segura e pacífica e esta oportunidade de poder votar nas eleições do meu país enche-me de orgulho", afirma.
Sobre o que espera que seja o resultado das eleições de 14 de maio, Safak limita-se a dizer que deseja "o melhor para a Turquia e um futuro também melhor para todos.
Um total de 24 partidos apresentam-se às eleições legislativas na Turquia de 14 de maio e em paralelo às presidenciais, apesar de as sondagens indicarem que apenas seis consigam ultrapassar os 7% de votos para garantir presença no Parlamento.
Os cerca de 60,5 milhões de eleitores que se vão deslocar às assembleias de voto -- para além dos cerca de três milhões de emigrantes também inscritos -- vão deparar-se com um boletim de voto com um metro de comprimento, entretanto aprovado pela Conselho eleitoral superior (Yüksek Seçim Kurulu, YSK) e eleger os 600 deputados à Grande Assembleia Nacional (o Parlamento unicameral).
O Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), liderado pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan, e a principal força da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP) lideram coligações eleitorais antagónicas, integradas por diversos partidos.
Os islamistas conservadores, que governam a Turquia desde a sua incontestada vitória nas legislativas de novembro de 2002, encabeçam a coligação eleitoral Aliança Popular (CI) e têm como aliados o Partido de ação nacionalista (MHP, extrema-direita) e dois partidos menores, o islamista e ultranacionalista Partido da grande unidade (BBP) e o islamista Partido da prosperidade (Yeniden Refah, YRP).
As listas da Aliança Popular acolhem ainda candidatos da formação ultra-islamista curda Partido da Livre causa (Huda-Par), com ligações ao Hezbollah curdo.
O CHP, que reclama a herança de Mustafa Kemal, fundador da República da Turquia, mantém a sua coligação com o nacionalista O Bom partido (IYI), liderado por Meral Aksener e atualmente a quinta formação no hemiciclo, ao qual se juntam outros quatro partidos que formam a designada "Mesa dos Seis", o principal bloco opositor e que surge nas listas sob a designação de Aliança da Nação (MI).
Pelo facto de um partido apenas garantir representação parlamentar caso ultrapasse a barreira obrigatória dos 7% de votos expresso, as coligações passaram a assumir grande importância na Turquia.
Nesta perspetiva, a ampla coligação oposicionista tem como objetivo fazer regressar a Turquia a um sistema como predomínio parlamentar, e após a imposição do sistema presidencial elaborado por Erdogan e referendado em 2017.
Para alterar a atual legislação, será necessário garantir a aprovação de 400 dos 600 deputados da Grande Assembleia Nacional, ou de 360 para levar a proposta a referendo.
Nas presidenciais, o candidato que obtiver mais de metade do voto em 14 de maio será eleito. Caso contrário, haverá uma segunda volta duas semanas depois.
Kemal Kilicdaroglu, 78 anos, líder do CHP e apoiado pela Aliança da Nação (MI) e pelos partidos de esquerda pró-curdos, é o grande desafio para o atual chefe de Estado.