França diz que caso dos 'drones' no Kremlin é "no mínimo estranho"
O caso do alegado ataque de 'drones' contra o Kremlin, que Moscovo atribui a Kiev, para assassinar o Presidente russo, Vladimir Putin, "é no mínimo estranho", disse hoje a ministra dos Negócios Estrangeiros da França.
Os comentários da ministra Catherine Colonna à rádio France Inter despertaram, no mesmo dia, a ira da diplomacia russa para a qual a Rússia e a França são agora "adversários irreconciliáveis".
Moscovo acusou na quarta-feira a Ucrânia de atacar o Presidente russo no Kremlin com dois 'drones', uma alegação que Kiev negou.
Catherine Colonna recusou-se a "entrar no jogo das hipóteses", mas referiu que os 'drones' chegarem ao Kremlin "é bastante difícil de perceber em situações normais".
A chefe da diplomacia francesa lembrou que os ucranianos "declararam oficialmente que não têm nada a ver com este acontecimento, que permanece inexplicável".
A governante também deplorou as palavras do ex-presidente russo e número dois do Conselho de Segurança russo, Dmitry Medvedev, que apelou na quarta-feira à eliminação do chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, como forma de retaliação.
"Dmitry Medvedev distingue-se por comentários ultrajantes, numa escalada verbal que é lamentável", disse Catherine Colonna, acrescentando que "mais uma vez, esta escalada vem da Rússia, mais uma vez procura intimidar, assustar, encontrar pretextos que possam justificar o injustificável".
Os canais de comunicação com a Rússia "continuam a ser essenciais", sublinhou também Catherine Colonna, defendendo que um dos problemas do poder russo é "o seu confinamento numa realidade paralela".
O Presidente francês, Emmanuel Macron, não conversa com seu homólogo, Vladimir Putin, há meses, mas expressa regularmente a ideia de que o diálogo deve ser mantido com todas as partes.
"Não temos interesse em reforçar esse isolamento mental que levou a Rússia (...) a optar por invadir a Ucrânia", observou a chefe da diplomacia de Paris, que não especificou se pretende avistar-se com o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov.
Segundo a governante francesa, manter uma forma de diálogo também permite resgatar "os princípios da realidade".
A França deve continuar a ajudar a Ucrânia para que possa realizar uma contraofensiva a fim de restaurar "um equilíbrio de poder mais favorável" no terreno, a fim de esperar a Rússia na mesa de negociações, defendeu Colonna.
Além disso, o Governo francês está a preparar um novo pacote de ajuda, adiantou, sem revelar quando poderá ser anunciado.
Em reação a estas palavras, a porta-voz da diplomacia da Rússia, Maria Zakharova, disse que Moscovo acompanha os pronunciamentos do exterior.
"Acompanhamos de perto as declarações dos líderes dos parceiros que já foram fundamentais para nós, mas que se tornaram adversários irreconciliáveis. Infelizmente, entre eles está a França, com quem mantivemos contactos intensos e de excecional confiança até recentemente, que foram quase completamente reduzidos a nada por iniciativa do lado francês", afirmou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.709 civis mortos e 14.666 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.