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Política e vómito

Enquanto o mundo político anda ao rubro com os vários agentes em frenesim, e a máquina mediática a espremer tanta fruta do “body language” destes personagens, adocicada pela gestão dos insondáveis silêncios - simultaneamente estratégicos e reveladores - a maioria das pessoas já se sente cansada, nauseada destes toscos folhetins, onde a mentira e a mistificação imperam, escarrando na nossa face.

Contudo, por mais que se esbraceje contra esta putrefação da vida política, a verdade é que nós elegemos estes personagens por uma maioria expressiva há relativamente pouco tempo. Nenhum destes seres que se digladiam com leituras antagónicas do que está a acontecer, são entidades estranhas, pois conhecemo-las há muitos anos. Posto isto, só um avantajado “muro das lamentações” pode afagar os espíritos mais martirizados pelo arrependimento, pois, isso é algo comum aos mortais, que se embasbacam pela sedutora simpatia gratuita, sobretudo, quando há défices de autoestima, que se entrecruzam com oportunismo popular e demagógico dos vendedores da banha-de-cobra.

Arriscando literalmente tomar o todo pela parte, não tenho uma visão maniqueísta do nosso espectro político. Creio cada vez mais que, tanto são desprezíveis os protagonistas, quanto as vestais donzelas de face ruborizada, que sonsas, se escudam numa pretensa seriedade que por detrás do biombo e do falso recato que efetivamente não têm.

Ainda há uma visão endeusada dos titulares dos cargos políticos, como se o serviço a que se prestam em nossa representação, fosse uma desígnio providencial duma elite íntima duma constelação de divindades. Os rituais das lideranças são apenas um bailado identitário e de sinalização. A natureza é comum a todos nós. As convenções, procedimentos e grau de responsabilidade é que são distintos perante a comunidade. Ou deveriam ser.

O desencrespar da sociedade não se faz pela sua infantilização, nem tão pouco por retirar o carácter institucional do cargo, durante o exercício do mesmo. O que Rebelo de Sousa tem feito desde o seu primeiro mandato é reduzir a instituição Presidência da República a uma sofrida banalização e vulgarização, esvaziando assim, os seus vários poderes e atributos, sobretudo aqueles veiculados pela “palavra”. A sua “palavra” tornou-se átona de tanto ser ruidosa nas banalidades, antiprotocolar na incumbência e por fim desacreditada no magistério. Tanto dessacralizou o lobo ao rebanho, que todos ficámos vulneráveis ao ataque de várias alcateias.

Se uma fração desta importância fosse mesmo dedicada às pessoas comuns que lidam com juros, inflação e ao futuro sustentado, desbragávamos o descansado olhar no vómito da Pátria de Salazar pelo traço de Paula Rego, em vez deste permanente regurgitar da artisticidade plástica e bulímica, de Milley Brown, perante assistência de revoltados estômagos de abril, de maio e do resto do maldito calendário a que nos autocondenámos.