Egipto recebeu 47.000 deslocados de conflito que iniciou trégua já violada
O Egito recebeu 47.000 deslocados em fuga desde o início do conflito no Sudão, onde uma trégua de sete dias iniciada hoje já foi violada pelas partes em confronto desde 15 de abril, de acordo com as Nações Unidas.
A porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) no Egito, Christine Beshay, disse à agência Efe que este país árabe é a nação que acolheu mais pessoas que fogem dos combates no Sudão, que opõem o exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, sigla em inglês).
"De acordo com os números que o ACNUR recebeu do Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio, até 03 de maio [quarta-feira], mais de 50.000 pessoas tinham atravessado para o Egito, incluindo 47.000 sudaneses e 3.500 cidadãos de países terceiros", afirmou.
As agências da ONU estão "nas fronteiras e a encontrar pessoas que chegam ao Egito vindas do Sudão", em fuga dos combates.
"A missão apoiará os nossos esforços coordenados, sob a direção do ACNUR, para responder às necessidades urgentes das pessoas que chegam e para aumentar a assistência que já está a ser prestada através do Crescente Vermelho egípcio, em preparação para a chegada de mais pessoas", acrescentou Beshay.
De acordo com os dados da ONU, cerca de 100.000 pessoas já atravessaram o Sudão para outros países limítrofes, sendo o Egito e o Chade os países que mais receberam as pessoas através das suas passagens terrestres.
O ACNUR prevê que cerca de 800.000 pessoas possam estar a fugir do conflito, que provocou uma catástrofe humanitária no país africano.
Apesar de ter começado hoje uma trégua de sete dias, a mais longa desde o início das hostilidades, as partes em conflito já a violaram, tal como aconteceu com as anteriores.
As Forças Armadas sudanesas afirmaram, num comunicado publicado na sua conta na rede social Twitter, que as RSF tinham atacado as suas posições na capital e sublinharam que tinham dado "um castigo decisivo ao inimigo, que se dispersou entre mortos, feridos e fugitivos", pedindo ao mesmo tempo à população que não tocasse em qualquer material deixado na zona, por razões de segurança.
A mesma fonte declarou que oito veículos tinham sido destruídos durante os combates e prestou homenagem aos "mártires" que se encontravam nas suas fileiras, sem comentar o número de vítimas dos combates.
Por sua vez, as RSF criticaram as "ações irresponsáveis dos líderes das forças golpistas e dos remanescentes extremistas do regime extinto (do ex-presidente Omar Hassan al-Bashir, deposto em 2019) ao violar a trégua humanitária". "Eles atacaram as nossas forças (...) em vários locais", referiram na sua conta no Twitter.
"As nossas forças e os bairros residenciais foram alvo de bombardeamentos indiscriminados de artilharia e de caças, o que constitui uma violação cobarde e flagrante do direito internacional e do direito humanitário. Já dissemos anteriormente que existem vários centros de decisão no grupo golpista, o que afeta negativamente a implementação da trégua humanitária", denunciaram.
O chefe das Forças Armadas sudanesas e presidente do Conselho Soberano de Transição, Abdel Fattah al-Burhan, e o líder das RSF, Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como "Hemedti", deram o seu acordo de princípio no domingo para estabelecer uma trégua entre hoje e sexta-feira da próxima semana, tal como anunciado pelo Governo do Sudão do Sul, que empreendeu esforços de mediação.
As hostilidades eclodiram em 15 de abril, após semanas de tensão sobre a reforma das forças de segurança nas negociações para a formação de um novo governo de transição.
Ambas as forças estiveram por trás do golpe conjunto que derrubou o executivo de transição do Sudão em outubro de 2021.