Governo basco pede reconhecimento da "dor causada injustamente" pela ETA
O presidente do governo regional do País Basco, em Espanha, pediu hoje "um reconhecimento sincero e honesto da dor causada injustamente" pelo grupo terrorista ETA, que anunciou a dissolução há cinco anos, em 03 de maio de 2018.
Iñigo Urkullu invocou as vítimas do terrorismo da ETA - organização que justificou a violência durante mais de quatro décadas com a luta pela independência do País Basco - e defendeu esse "reconhecimento sincero e honesto" perante "as pessoas, as empresas e a sociedade basca para contribuir para a convivência e para que nunca mais volte a acontecer".
O presidente do governo regional, do Partido Nacionalista Basco (PNV, na sigla em castelhano), sublinhou que "o legado" da ETA são "milhares de vítimas de extorsão, sequestro, dor e morte".
"O seu legado é uma sociedade sofredora e com uma convivência por restaurar", acrescentou Iñigo Urkullu, num ato público em Bilbau, em que fez uma referência aos cinco anos do anúncio do fim da ETA.
A Euskadi Ta Askatasuna (ETA, Pátria Basca e Liberdade, em português) anunciou a dissolução em 03 de maio de 2018, mas já havia anunciado que cessava a violência em 2011.
Ao longo de mais de 40 anos de atividade, a ETA matou 853 pessoas.
Mais de 300 dos assassinatos atribuídos à ETA continuam sem resolução judicial, ou seja, não há ainda uma sentença de condenação dos autores.
A resolução destes crimes são uma das reivindicações das vítimas do terrorismo da ETA, que apelam ao prosseguimento das investigações por parte da justiça espanhola.
Cinco anos após o fim da ETA há também no debate político no conjunto de Espanha o apelo para que partidos da esquerda separatista considerados os herdeiros do braço político da ETA condenem claramente a atividade violenta do grupo terrorista, tal como pediu hoje o presidente do governo regional.
Líderes destes partidos da designada "esquerda abertzale" afirmaram em 2021, quando passaram dez anos do fim dos atentados da ETA, lamentar "a dor" causada pela organização separatista e disseram que "nunca devia ter acontecido".
Os partidos da esquerda espanhola, com os socialistas do PSOE e o Podemos, viram aspetos positivos nestas declarações, mas a direita, sobretudo, considerou que, como disse hoje Iñigo Urkullu, não foram suficientes, sinceras ou honestas, mantendo-se no debate político a reivindicação para uma condenação clara dos crimes da ETA e o reconhecimento de um passado ligado à organização.
A esquerda separatista basca considerada herdeira do braço político da ETA integra hoje, basicamente, a coligação EH Bildu, cujos deputados foram essenciais, nestes últimos cinco anos, para viabilizar o atual executivo regional de Navarra (vizinha do País basco) e o Governo de Espanha, ambos liderados pelo partido socialista.