Reservas absurdas
Os madeirenses podem ver a exposição que Assembleia da República recusou exibir. Câmara de Lobos é bem mais livre do que a preconceituosa casa da democracia nacional
Boa noite!
A exposição internacional que a Assembleia da República recusou exibir, pode ser vista no Museu de Imprensa da Madeira, em Câmara de Lobos. Abriu hoje e está patente ao público até 7 de Julho.
“Memória – Totalitarismo na Europa” já passou pelo Parlamento Europeu, tem como lema “não esquecer para não repetir” e visa “homenagear as vítimas do nazismo, fascismo e comunismo na Europa e relembrar os vários tipos de totalitarismos, para que no futuro não voltemos a cometer os mesmos erros”, sublinha o Instituto +Liberdade que trouxe a mostra para Portugal.
A exposição foi criada pela Plataforma da Memória e Consciência Europeia, organização criada na sequência de uma resolução do Parlamento Europeu que teve 553 votos a favor e apenas 44 votos contra, em 2009. Pelos vistos, houve um largo consenso numa Europa que se quer livre, democrática e que procura não esquecer o seu passado trágico para evitar que regimes totalitários se repitam.
Contudo, o Portugal democrático que experimentou o flagelo da ditadura não aprecia a abordagem. No ano passado, Augusto Santos Silva recusou acolher a exposição na Assembleia da República após os partidos de esquerda manifestarem reservas sobre o “equilíbrio científico e historiográfico” da mesma.
Não é de espantar que num País que prefere valorizar reservas em vez de focar-se nos eixos principais haja este tipo de desconsiderações em relação a trabalhos que mostram repudiantes regimes que patrocinaram crimes, genocídio, guerra e atrocidades de toda a espécie sem que haja um único acusado e condenado.
A exposição que já esteve presente em 19 países da Europa e da América do Norte e em 8 cidades portuguesas dá que pensar, ajuda a fortalecer direitos, liberdades e garantias e permite concluir que os extremismos nefastos, da direita ou de esquerda, nalguns casos tolerados pelos porreirismos nacionais, continuam a espreitar a oportunidade para reavivar o trágico passado totalitário na Europa.
Comprovadamente, Câmara de Lobos mostrou hoje não pactuar com o massacre, assumindo-se bem mais livre do que a preconceituosa casa da democracia nacional e, porventura, bem mais consciente do que é essencial. Abrir estradas até pode dar votos, mas abrir cabeças garante futuro.