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Três mitos totós sobre os professores

Se é assim tão aliciante ser professor, porque fogem os alunos para outras áreas, agudizando uma crise de falta de professores em fase de aceleramento sério?

Os humanos têm tendência para julgar que o que os outros têm é melhor do que o que lhes coube em sorte. É a velha máxima de que a banana do quintal do vizinho é sempre melhor do que a do nosso.

Este princípio aplica-se, mutatis mutandi, às profissões. Por isso, os nossos conhecidos estão quase sempre melhor do que nós: eles é que ganham mais, têm mais regalias, um patrão compreensivo e um sem fim de vantagens que só existem na cabeça de quem, olhando do exterior, só vê à superfície. Por dentro, quase tudo é diferente.

É assim com os professores, que parecem ocupar um lugar no pódio das profissões mais invejadas. Para isso, contribuem, há décadas, alguns mitos propalados aos quatro ventos e que têm servido para ataques brutais a estes profissionais por parte de alguns governos, de entre os quais se destaca aquele em que Maria de Lurdes Rodrigues ocupou a pasta de ministra da educação. Eis três desses mitos:

1. ganham muito;

2. trabalham pouco;

3. têm três meses de férias.

Ora vamos lá analisar cada um deles.

Em relação ao salário, para aferirmos se ganham ou não muito, proponho olharmos à nossa volta e compararmos o padrão de vida de um professor que aufira, apenas, rendimentos da atividade docente com o de outros profissionais com formação superior equivalente. Quem tem melhores habitações, melhores carros? Quem viaja mais? Quem se pode dar ao luxo de frequentar, regularmente, bons restaurantes? Do que conheço, a resposta é óbvia: não são os professores.

Passando ao horário de trabalho, muitos exemplos poderia dar, mas, na falta de espaço, refiro um concreto: um professor de uma disciplina teórica do ensino secundário com 100 alunos. Vamos a contas concretas: para corrigir cada teste segundo os critérios de exame, precisará de cerca de uma hora. Tendo 100 alunos, gastará 100 horas, mas como são 2 testes por período, precisará de 200 horas. Ora, isso é o equivalente a cerca de 6 semanas de trabalho, só para corrigir testes, ou seja, quase metade do tempo de trabalho de um período! E as aulas, a sua preparação, a elaboração dos testes e fichas, dossiês…

Finalmente as férias. Como qualquer funcionário público da RAM, os professores têm direito a 25 dias de férias, que têm de ser marcadas entre julho e agosto. Fora disso, têm de assegurar todo o serviço de avaliações finais, exames, matrículas e tantos outros. No início de setembro, têm de regressar ao serviço. Onde param, então, os 3 meses? Alguém anda a contar mal pelos dedos!

Em forma de conclusão, uma pergunta: se é assim tão aliciante ser professor, porque fogem os alunos para outras áreas, agudizando uma crise de falta de professores em fase de aceleramento sério?