Não havia razão para substituir Alexandra Reis em Dezembro de 2021
O ex-secretário de Estado Miguel Cruz disse hoje que não havia razão para substituir Alexandra Reis em dezembro de 2021, quando comunicou ao Governo a possibilidade de renunciar caso houvesse vontade, antes da saída que envolveu a polémica indemnização.
"Indaguei via então secretário de Estado Hugo Mendes se havia alguma questão, a informação que tive foi muito clara de que não havia nenhuma intenção [de substituir Alexandra Reis], estavam satisfeitos com o trabalho da engenheira Alexandra Reis. [...] Do meu ponto de vista, a leitura era exatamente a mesma, não havia qualquer razão para querer substituir a engenheira Alexandra Reis", afirmou o ex-secretário de Estado do Tesouro Miguel Cruz, na comissão de inquérito à TAP.
Em causa está um 'email' enviado em dezembro de 2021 pela ex-administradora da TAP Alexandra Reis ao Governo, endereçado ao então ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, e aos ex-secretários de Estado Hugo Mendes e Miguel Cruz, aquando da saída de Humberto Pedrosa da companhia aérea, em que, pela sua ligação ao acionista privado, a ex-administradora demonstrou a intenção de renunciar ao cargo, caso o Governo entendesse necessário.
Caso o Governo pretendesse que Alexandra Reis renunciasse naquela altura, e caso a então administradora apresentasse efetivamente a sua renúncia, sairia sem lugar a indemnização, ao contrário do que viria a acontecer cerca de dois meses depois, quando negociou a sua saída da companhia por 500.000 euros.
"Nem o ministro das Infraestruturas, nem eu próprio tínhamos qualquer interesse na substituição da engenheira Alexandra Reis e, portanto, isso [o 'e-mail'] a nós parecia-nos uma questão de natureza formal", sublinhou o ex-governante.
Questionado pelo deputado do PSD Paulo Moniz sobre a surpresa com que, segundo Alexandra Reis, o então secretário de Estado do Tesouro recebeu a notícia da renúncia da ex-administradora, formulação utilizada na altura da saída, Miguel Cruz disse que, na sua opinião, não era a melhor oportunidade para se ter mais uma saída do Conselho de Administração" da TAP, após duas outras recentes renúncias.
Já sobre a comunicação da TAP à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a dar conta de uma rescisão por mútuo acordo, Miguel Cruz realçou que a informação de que dispunha na altura, "informação pública e informação acionista", era, efetivamente, "da existência de uma renúncia".
Assim, prosseguiu o ex-governante, na conversa telefónica que teve com Alexandra Reis logo após a renúncia "não foi indicado que a [saída] tivesse qualquer tipo de relação com mal-estar em relação à [então] presidente executiva [Christine Ourmières-Widener]".
Sobre um eventual "mal estar" entre Ourmières-Widener e Alexandra Reis, Miguel Cruz disse não se recordar de ter tido conhecimento de desentendimentos entre as duas administradoras.
"Nas reuniões de preparação das reuniões com a Comissão Europeia para discussão do plano de reestruturação -- que foram as primeiras oportunidades em que tive reunião com as duas juntas - era notório que qualquer uma delas era muito opinativa, com muitas ideias, muitas sugestões e sempre alguns momentos em que as conversas se sobrepunham, mas nunca nada que me suscitasse qualquer tipo de mal estar que não fosse a vontade de participar e de facto contribuir para o esforço", afirmou Miguel Cruz.