Sinais de fadiga
A liberdade de imprensa é vital para a democracia. Daí que importe denunciar as maiores ameaças a este bem comum
Boa noite!
A desinformação é a maior ameaça à liberdade de imprensa, o bem comum que o mundo civilizado hoje assinala. Sobretudo porque se transformou num negócio que se alimenta da descredibilização constante da informação rigorosa e séria, na tentativa desesperada para fazer passar mensagens de ódio, narrativas alternativas e conveniências ficcionadas. Um mal engendrado por ressabiados que urge combater com determinação e sem medo da conspiração e do insulto.
A este juntam-se outros dramas que atentam contra os direitos consagrados, que comprometem a verdade e que, de forma orquestrada, confundem consciências.
Caso da fadiga informativa decorrente da produção repetitiva e demorada em canais ditos de notícias, que debitam assuntos levianamente certificados e prologam directos vazios de relevância – e sim, hoje não foi a primeira vez em que Marcelo Rebelo de Sousa comeu um gelado para o País ver em prime time televisivo que também sabe ser frio! -, expedientes a que falta ponderação e reflexão.
Mas também da sede do imediato, dessa voragem por dar primeiro sem a preocupação em ser certeiro.
Da discussão de factos com base em opiniões, tal a profusão dos comentadores que se acotovelam numa gritaria incontrolável no espaço público, nas redes ditas sociais ou nos programas alegadamente de contraditório pedagógico
Da pirataria sem penalização ou da apropriação indevida de conteúdos e da reacção hostil ao trabalho de verificação de factos
Do advento da Inteligência Artificial, muitas vezes usada sem critério nem enquadramento, sem contexto nem legislação, sem nexo nem atribuição, alimentando-se ela própria daquilo que vai gerando ou então das injecções de conteúdos colocados na rede global com intuitos desonestos e propagandísticos.
Das ofensas mais ou menos cirúrgicas aos mensageiros à boleia de chantagens financeiras, assédios morais e até de regulamentações inibidoras da criatividade.
Das campanhas sistemáticas que minam a credibilidade jornalística para fazer vingar extremismos e outras delinquências sociais.
Das desconsiderações tresloucadas aos apoios públicos que visam assegurar o pluralismo e corrigir assimetrias ditadas pela descontinuidade territorial.
A lista de casos susceptíveis de atrofiar a liberdade é imensa. Mas o esforço de libertação das pressões e opressões e de resistência aos ataques cobardes ou de intimidações de circunstância é admirável. A imprensa registada, transparente e com rosto; a imprensa livre, imparcial e de pacto assinado com a verdade; a imprensa irreverente, promotora do pensamento crítico e que partilha valor é a garantia de todas as outras liberdades. Sem jornalismo a democracia definha.