Presidente da República promete que irá falar, mas não hoje
O Presidente da República prometeu hoje que irá falar sobre a situação política do país, mas não hoje, depois de ter manifestado a sua discordância em relação à decisão do primeiro-ministro de manter João Galamba como ministro das Infraestruturas.
"Certamente que eu terei oportunidade de dizer aos portugueses o que é que penso, mas não agora, não agora, hoje não", respondeu Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, na Calçada da Ajuda, em Lisboa, após sair do Palácio de Belém a pé para jantar num restaurante ali perto.
Na terça-feira à noite, Marcelo Rebelo de Sousa fez divulgar uma nota na qual realçou que "não pode exonerar um membro do Governo sem ser por proposta do primeiro-ministro" e afirmou que "discorda da posição deste quanto à leitura política dos factos e quanto à perceção deles resultante por parte dos portugueses, no que respeita ao prestígio das instituições que os regem".
Nessa nota, publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet pelas 21:25, o chefe de Estado mencionou que ao apresentar o seu pedido de demissão João Galamba invocou "razões de peso relacionadas com a perceção dos cidadãos quanto às instituições políticas", mas o primeiro-ministro "entendeu não o fazer, por uma questão de consciência, apesar da situação que considerou deplorável".
O primeiro-ministro estava nesse exato momento a terminar uma conferência de imprensa na residência oficial de São Bento iniciada cerca das 20:50, na qual anunciou que não aceitava o pedido de demissão de João Galamba do cargo de ministro das Infraestruturas: "Trata-se de um gesto nobre que eu respeito, mas que em consciência não posso aceitar".
António Costa considerou não poder imputar "qualquer falha" a João Galamba e repetiu vinte vezes a palavra "consciência" para justificar a sua decisão, pela qual se responsabilizou "em exclusivo", admitindo estar provavelmente a agir contra a opinião da maioria dos portugueses e certamente dos comentadores.
"Aquilo que tem sido repetidas vezes dito é o contrário do que eu apurei. Tem sido dito que o ministro quis ocultar informação à comissão parlamentar de inquérito -- é falso. Diz-se que o ministro deu ordens aos serviços de informações ou quis utilizar os serviços de informações -- também é falso", declarou.
O primeiro-ministro referiu ter informado o Presidente da República antes de anunciar publicamente a decisão de manter João Galamba como ministro das Infraestrutruras, ressalvou o respeito pelas opiniões e decisões do chefe de Estado, mas realçou que é sua a competência de propor a nomeação e exoneração de membros do Governo.