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'Portugal com ACNUR' lança campanha de sensibilização e angariação de fundos

Foto EPA/KHALED ELFIQI
Foto EPA/KHALED ELFIQI

O parceiro português do ACNUR lançou uma campanha de sensibilização e angariação de fundos para apoiar o Sudão, alvo de crises humanitárias, acentuadas com violentos combates entre o exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido.

Para Joana Brandão, diretora nacional da Fundação Portugal com o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), aos problemas humanitários que o Sudão regularmente atravessa acresce a "falta de visibilidade" do país e o subfinanciamento que afeta e condiciona as atividades das organizações humanitárias e das agências da ONU.

Números divulgados na terça-feira, revelam que o programa de ajuda do Sudão para este ano está atualmente financiado em apenas 14% e as organizações humanitárias estão a 1,5 mil milhões de dólares (1,37 mil milhões de euros) do que necessitam para fazer face à crise humanitária, exacerbada pelos combates em curso.

"Com o retomar do conflito no país, a situação humanitária agravou-se significativamente, com um aumento de pessoas refugiadas e deslocadas e em condições muito precárias", explicou Joana Brandão.

Os intensos combates entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), obrigaram mais de 330.000 pessoas a abandonar as suas áreas de residência no interior do país, enquanto outras 100.000 fugiram para países da região, anunciaram na terça-feira as Nações Unidas.

Os confrontos, que já fizeram mais de 500 mortos e cerca de 4.600 feridos, opõem desde 15 de abril as RSF e o exército sudanês, na sequência de tensões sobre a reforma do exército e a integração dos paramilitares nas forças regulares, no âmbito de um processo político que visa repor o país na via democrática, após o golpe de Estado de 2021.

Tanto o exército como as RSF estiveram por detrás do golpe de Estado que derrubou o governo de transição do Sudão em outubro de 2021.

"Neste momento o que nós pedimos é que as pessoas possam estar atentas, acompanhem e possam doar aquilo que puderem para nós conseguirmos enviar estes fundos para a resposta que está a ser realizada não só no Sudão, mas nos países vizinhos", apelou Joana Brandão.

"E falamos de ajuda que pode significar apoio a necessidades na área da saúde, da água, abrigo, necessidades básicas que estão a ser prestadas neste momento pelo ACNUR já em vários locais", acrescentou.

Ciente de que a crise sudanesa não tem em Portugal a mesma visibilidade de outras, designadamente da Ucrânia, a diretora nacional explicou que o papel da Fundação Portugal com ACNUR "é enviar informação, partilhar os dados a partir de relatórios recebidos quase diariamente a nível internacional".

No Sudão "há um histórico de crises que se foram multiplicando" e que atingem diretamente a população civil.

"Preocupam-nos muito essas realidades que não são tão visíveis. Acho que é o nosso papel dar mais visibilidade e lembrar que são pessoas como nós", destacou.

O ACNUR continua a trabalhar no terreno, "tem respostas onde consegue atuar, nomeadamente no norte do Darfur, em que já está a distribuir bens não alimentares, como tendas, colchões, sabão, roupa, cobertores".

"Porque, de facto, este conflito está a afetar pessoas em todo o país, não só em Cartum, mas também em outras localidades, está a provocar a fuga de milhares e milhares de pessoas", frisou.

Na campanha agora lançada, Joana Brandão destacou a "sensibilização".

"É uma palavra que pode parecer um tanto abstrata, mas nós darmos a conhecer essas realidades, não só à comunidade geral, mas também a crianças, a escolas e universidades, como nós fazemos, falar destas temáticas, explicar às pessoas o que é que é um refugiado, o que é que é um deslocado interno, o que é isso direito ao asilo. De que número estamos a falar? No ano passado atingiu-se um recorde, desde que há registos do ACNUR, em que se alcançaram 100.000.000 de pessoas deslocadas no mundo", sublinhou.

"Acho que essa via de sensibilização, de podermos nós, parceiros nacionais do ACNUR espalhar estes conceitos, esta realidade, fazer um bocadinho sentir o que é viver como refugiado ou como deslocado interno, é um dos caminhos", apontou Joana Brandão.

"O outro, e isto é preciso ser também afirmado sem problemas, é pedir donativos às pessoas confiando na credibilidade, na transparência que tem o ACNUR como agência da ONU, na informação que depois é prestada aos doadores. As pessoas devem sentir que quando podem doar, sejam 10 euros ou sejam 500 ou 1.000 estão a fazer diferença. É uma forma de chegar lá ao terreno e deixarem lá uma ajuda concreta que salva vidas" concluiu.