Portugueses candidatos às autárquicas em Inglaterra
Hélder Costa tinha idealizado concluir a licenciatura em Gestão de Empresas no Reino Unido e regressar a Portugal para montar o seu negócio, mas acabou por mudar de carreira e ficar em Inglaterra, onde é candidato às eleições autárquicas de quinta-feira.
Os planos mudaram no último ano do curso, quando foi eleito presidente da associação de estudantes e começou a trabalhar com instituições não-governamentais.
"Esse foi o ponto que mudou a minha direção de carreira", disse à Agência Lusa o portuense de 26 anos, atualmente dirigente de várias organizações de apoio e incentivo a jovens para a participação cívica e política.
Costa recorda "um ano fantástico" em que em que interagiu com os parlamentos europeu e britânico devido ao processo do 'Brexit', o que lhe deu confiança para ingressar num percurso profissional diferente.
Entretanto, foi pai, o que pesou na decisão de ficar em Sunderland, perto de Newcastle, no norte de Inglaterra, e o envolvimento na política local foi uma continuidade da experiência como líder estudantil.
A filiação nos Liberais Democratas, partido da oposição britânica, foi o resultado de uma reflexão sobre os próprios princípios: inclinado para uma ideologia económica de direita, mas apegado ao valor social do projeto europeu.
A campanha para vereador na área de Southwick, em Sunderland, tem sido centrada no acesso a habitação de qualidade e defesa de mais investimento local.
"Temos de criar postos de trabalho e melhorar aqueles existentes", argumentou o português, numa altura em que se fala muito de descentralização do nordeste de Inglaterra.
Apesar de a região ter votado maioritariamente pela saída da União Europeia no referendo de 2016, afirma que existem muitos eleitores descontentes com o Governo do Partido Conservador, impopularidade confirmada nas sondagens.
"Tenho esperança de ser eleito. É difícil distinguir um vereador de um deputado em termos de valores partidários, por isso os eleitores locais vão ser influenciados pelo comportamento dos partidos a nível nacional", referiu.
No outro extremo de Inglaterra, em Brighton, Renato Marques, de 29 anos, concorre pelos Verdes, um partido cujo única deputada, Caroline Lucas, representa esta cidade costeira a cerca de 80 quilómetros de Londres.
Funcionário administrativo do sistema de saúde público britânico, mudou-se de Bournemouth há sete anos, encantado com esta "cidade vibrante e muito mais diversa, com pessoas de muitas origens".
Natural da Covilhã, chegou ao Reino Unido aos 10 anos, em 2004, juntamente com os pais, que deixaram trabalhos precários na indústria têxtil na Beira Alta para "procurar uma melhor qualidade de vida".
Marques despertou para a política durante os protestos de 2010 devido ao aumento das propinas das universidades pelo governo de coligação entre os Liberais Democratas de Nick Clegg e os Conservadores de David Cameron.
Depois de passar pelo movimento sindical, associou-se aos Verdes, com os quais partilha uma visão política pró-europeia e de esquerda, sendo candidato na área de Westbourne & Poets' Corner.
Os principais temas de campanha têm sido os custos da habitação, a reciclagem e compostagem e também os riscos do tráfego automóvel, sobretudo perto de escolas.
"Estamos a enfrentar os mesmos problemas do resto do país, como o aumento do custo de vida, a deterioração das condições de vida e de trabalho e dos salários", contou à Lusa.
Nas eleições de 2019, os Verdes elegeram 20 vereadores em Brighton, mas corre o risco de perder terreno para os Trabalhistas, cuja popularidade aumentou e estão na frente das sondagens a nível nacional.
"Todas as eleições são diferentes", afirma Marques, que encoraja os portugueses a envolverem-se na política local porque "é uma forma de ouvir o que as comunidades têm para dizer e de garantir que podemos ultrapassar os problemas em conjunto".
Tal como Hélder Costa e Renato Marques, Daniel Carvalho também está a concorrer a vereador numa zona sem uma comunidade portuguesa expressiva apenas porque quer contribuir para a comunidade.
Professor de física e matemática, vive há sete anos em Lincoln, no norte de Inglaterra, depois de vários anos em Espanha. Tem passaporte português por ser descendente de avós goeses, mas não viveu em Portugal.
"As crianças precisam de mais oportunidades, temos muitos sem abrigo e toxicodependentes e eu acho que posso ter impacto em diferentes gerações", disse à Lusa.
É candidato pelo Partido Conservador pela terceira vez, depois de tentativas em 2021 e 2022, desta vez na área de Boultham, onde vivem muitos imigrantes, nomeadamente romenos e lituanos.
O congestionamento das estradas e a falta de limpeza das ruas são outros temas de campanha.
"Esta zona vota tradicionalmente nos Trabalhistas, mas a mudança nunca acontece de repente", afirma, esperançado que os eleitores estejam mais interessados nos problemas locais do que nas controvérsias a nível nacional que afetam os Conservadores.
As eleições autárquicas de quinta-feira vão escolher mais de 8.000 representantes em 230 autoridades locais em Inglaterra.
Carla Barreto é candidata à reeleição como independente na área de Thetford Burrell, em Breckland, enquanto Aurelio Spinola concorre pelo Partido Conservador em Great Yarmouth, na zona de Central And Northgate.
Tanto Thetford como Great Yarmouth, ambas no este de Inglaterra, têm dezenas de milhares de residentes portugueses, empregados sobretudo em fábricas de processamento alimentar.
A Agência Lusa identificou outros candidatos portugueses ou de origem portuguesa, mas estes não quiseram prestar declarações.
No ano passado, um número recorde de sete portugueses ou lusodescendentes foram eleitos vereadores nas eleições locais britânicas em Inglaterra e Escócia.