Crónicas

Porque (raio) é que as pessoas não mudam?

Quando mudamos os pensamentos, mudamos o nosso centro de comando: o cérebro. Aparecem rachas e brechas nas nossas muralhas mentais, e novos caminhos e horizontes, deslumbrantes e impensáveis, abrem-se na nossa autoinvestigação e criação. Física e emocionalmente. A luz pode finalmente voltar a brilhar e a iluminar.

É das perguntas que mais ouço. Se calhar, desse lado também?! Somos ótimos estrategas (para o bem e para o mal). O caminho, parece-me, é escolher entre ser vítima ou criador, na arte de criar uma vida consciente e intencional. 

À medida que fui avançando nos meus estudos, investigações e práticas (pessoais e profissionais) de programação neurolinguística (PNL) e neurociência (já se somam 13 anos), foi ficando cada vez mais claro, que mais difícil do que as dificuldades e desafios que sentimos, são as dificuldades e desafios que não sentimos ou sentimos (de forma disfuncional), mas não sabemos que sentimos. Pois. São as dificuldades e desafios dos quais não temos consciência. São aqueles que se instalam nas zonas cegas da nossa perceção. E é por isso que a transformação pessoal exige meta-cognição, um conceito da neurociência que significa viver consciente de como criamos a nossa vida. É um convite a pensar sobre como temos andado a pensar. Pede que ganhemos consciência de como falamos, de como agimos, do que lemos, das músicas (letras) que ouvimos. Pede que notemos como nos sentimos, que emoções se manifestam, em cada uma destas arenas. A nossa vida é um reflexo do que acontece dentro de cada um de nós. Mas vamos por partes. 

A neurociência revelou que pensamos 65 a 70 mil pensamentos num dia. 95% destes pensamentos são os mesmos que no dia anterior. E, se um pensamento é algo que não podemos ver, que não podemos tocar, é também algo que se pode medir em termos de frequência de energia e impacto direto na saúde emocional e física. O físico, Nobel da Física, Jean Pierre Garnier Malet, provou que tudo é energia: quando mudamos a frequência da energia, podemos alterar qualquer realidade. O que torna este processo possível é gerar um pensamento claro, consciente que se una à emoção e ao sentimento, também eles conscientes, criando assim, a nova realidade. Portanto, se acreditamos nesta premissa, que a ciência entrega, então é fácil perceber que a nossa vida não muda enquanto mantivermos os mesmos pensamentos. Afinal: os mesmos pensamentos conduzem às mesmas escolhas, a mesmas escolhas geram os mesmos comportamentos, os mesmos comportamentos criam as mesmas experiências e as mesmas experiências produzem as mesmas emoções. Ora, as mesmas emoções influenciam os pensamentos.É um neuro-circuito que gera a mesma neuro-química de sempre e hormonas, influenciando, inclusive, a expressão genética.

Esta equação é igual a como pensamos, como agimos e como sentimos. Por sua vez, este resultado é aquilo a que chamamos personalidade. Aquilo que é tão interessante quanto o que acabo de mencionar é que, a nossa personalidade cria a nossa realidade pessoal. Traduzindo, a personalidade à qual chamamos ‘eu’, é a responsável pela criação da nossa vida atual. 

O psiquiatra e professor Daniel Amen, lembra muitas vezes que podemos herdar pensamentos dos nossos ancestrais, fica inscrito no nosso código genético. Por exemplo, se aconteceu na família direta, um evento traumático há três gerações, o risco de manifestar, aqui e agora, ansiedade e depressão é muito acrescido. E a mesma ciência também provou que apesar dos acontecimentos externos, é, agora, uma escolha pessoal manter ou não, os mesmos pensamentos que geram os mesmos acontecimentos. Não são os eventos é a forma como agimos perante os mesmos. E assim, também é claro que para criar uma vida diferente, temos de mudar quem somos, mudar a nossa personalidade. O mesmo é dizer que temos de ganhar consciência do programa que corre – inconscientemente - em nós. E isso é uma convocatória para pensar como temos andado a pensar nos últimos tempos e: mudar! É preciso ganhar consciência dos hábitos e comportamentos inconscientes e mudá-los. É também imperativo observar e ficar consciente de quais são as emoções que nos mantêm conectados ao passado e pensar: “quero levar estas emoções para o meu futuro?” 

É que não é possível criar uma nova realidade pessoal com a personalidade de sempre. É preciso tornarmo-nos uma nova pessoa. 

A neurociência revela que as células nervosas que disparam juntas, crescem juntas. O que significa que se continuamos a ter e a nutrir os mesmos pensamentos, continuamos a fazer exatamente as mesmas escolhas do dia anterior, continuamos a demonstrar os mesmos comportamentos, a falar da mesma forma. Se esses comportamentos conduzem à mesma experiência - que estampa a mesma sequência de neurónios, que geram o mesmo padrão - só pelo prazer do sentimento familiar ao qual chamamos ‘eu’, e se é essa a realidade, por exemplo, dos últimos 10 anos, esse disparo permanente de neurónios blinda o cérebro, criando uma assinatura própria que se torna a identidade. E aos 35 anos tornamo-nos uma série de comportamentos memorizados, de reações emocionais inconscientes, hábitos automáticos, crenças, atitudes e perceções. Há um programa que corre em nós e do qual só temos 5% de consciência. É fácil validar todo este conhecimento. Se nos observarmos ao acordar, fazemos ou não fazemos exatamente as mesmas coisas de sempre?! Ó raios! Vá, agora, já sabe, é sempre uma escolha.