Crise, mas qual crise?
Crise, mas, afinal, qual crise? Há uma crise democrática em Portugal, mas ela deriva de a nova Direita liderada culturalmente pelo Chega e a que se submetem o PSD e a Iniciativa liberal não acatar as regras da democracia liberal e o respeito pela conclusão dos mandatos. Há uma crise na nossa democracia porque, como afirma José Pacheco Pereira, o nosso comentário político é vazio e tem como único objetivo degradar a democracia e a sua pluralidade, dizendo do PS o que dizia nas vésperas das eleições o que disse depois e continua a dizer, não reconhecendo o resultados das eleições. Há uma crise de pluralidade na comunicação social, onde só a Direita tem espaço nos canais de sinal aberto privados, e tem ainda assente no canal público, com contraditório apenas de 15 em 15 dias. É preciso não esquecer que esta opinião pública e publicada nas ondas hertzianas apoiou e pressionou Cavaco Silva a dar um golpe nunca visto, até hoje em Portugal, incentivando-o a não concluir o processo legislativo em 2015 e não dando posse a um Governo que tinha base maioritária no parlamento. Agora pressionam Marcelo a não deixar concluir o mandato que foi atribuído a António Costa por 4 anos. E se há uma crise nas instituições ela pode verificar-se na conduta de toda a Direita, PPD, IL e Chega, na CPI, transformando-a no refugo da expressão parlamentar mais abjeta que já se viu no parlamento desde o regime constitucional de 1820. Essa é que á a crise. A Direita sempre confundiu a sua estadia na Oposição com Crise do Regime. É ver as entradas e saídas de Sá Carneiro para interferir com a vida dos I e II Governos Constitucionais. É genético.
E não vale a pena comparar o que acontece com os resultados económicos e financeiros com o que disse Montenegro durante o Governo da Direita. Agora os resultados económicos e financeiros sentem-se nos bolsos dos portugueses, seja nas pensões, nos salários, a ajuda das prestações do crédito à habitação e das rendas, ou no preço dos combustíveis ou do IVA 0 no cabaz de compra. O Governo governa, o parlamento funciona e todas as instituições estão no pleno uso dos seus poderes. Lá porque a Direita, desrespeitando uma CPI, que tem a dignidade de um órgão de poder reforçado, transformando-a numa charco, o País parou. Só porque a Direita quer transformar a sua crise de ausência poder e de desespero porque os mandatos têm 4 anos. A não ser que a Direita queira um novo 28 de Maio e queira chegar ao poder pela via revolucionária. Sim, porque o 28 de Maio foi o fim da democracia parlamentar de 1911. É isso que querem? Mudem mas é de vida.
Miguel Fonseca