Crónicas

“Obrigado PSD”

Pela minha parte não tenho nada, absolutamente nada, a agradecer ao PSD Madeira. Agradeço aos contribuintes europeus, portugueses e, acima de tudo, aos contribuintes madeirenses

1. Tivemos a oportunidade de ler nestas páginas um artigo escrito por Pedro Calado, que levava como título: “Obrigado PSD”. Estranho sempre nestas coisas, a incapacidade de quem nos governa de agradecer a quem de direito: aos contribuintes. Agradece-se a tudo o que é figura e figurinha, esquecem-se sempre aqueles que contribuem, com os seus impostos, para os desmandos da governação.

Depois de esgotado o lambecuzismo, eis-nos em presença do lambeumbiguismo, uma operação muito mais requintada que implica fazer coisas à coluna até hoje inimagináveis. Ainda bem que Pedro Calado não tinha caracteres para agradecer a todos os que certamente pretendia. Senão, teria de agradecer a muito mais gente e entidades. Seria um: “obrigado PSD, obrigado Alberto João Jardim, obrigado Miguel Albuquerque, obrigado a todos os que foram e são secretários regionais, obrigado a todos os que foram e são directores regionais, obrigado a todos os que foram e são chefes de gabinete, obrigado a todos os que foram e são assessores, obrigado a todos os que foram e são deputados, obrigado a todos os que foram e são presidentes de concelhias do PSD, obrigado a todos os que foram e são presidentes da JSD, obrigado a todos os que foram e são militantes do PSD, obrigado a todos os que foram e são militantes da JSD, obrigado a todos os que foram e são militantes TSD, obrigado a todos os que foram e são Presidentes de Câmara pelo PSD, obrigado a todos os que foram e são presidentes de Junta Freguesia pelo PSD, obrigado a todos os que foram e são presidentes da Assembleia Municipal pelo PSD, obrigado a todos os que foram e são presidentes de Casas do Povo, etc, etc, etc, e termino com um muito especial obrigado a mim mesmo”, como diria Nelson Mandela se não tivesse vergonha na cara.

2. Esperemos sentados, a ver se no próximo escrito do Sr. Presidente da Câmara do Funchal, teremos o prazer de ver como título: “EM NOME DO PSD PEÇO DESCULPA”. E depois é só elencar as asneiras, as trapalhadas, as faltas de sentido, as poucas vergonhas, os desvios orçamentais, o cunhismo e o nepotismo, o proteccionismo económico, as desnecessidades milionárias, os monopólios e os monopsónios absurdos, a troca de uns DDT ingleses por uns DDT autóctones, e por aí fora…

3. Miguel Albuquerque, Pedro Calado e outras figuraças do PSD Madeira, bem que tentam fazer passar a ideia de que não têm responsabilidade nenhuma no consulado anterior aos seus. Assim como que bastasse um passar de esponja. Até que são convincentes, uma vez que até à minha volta haja quem assim pense. Querem ficar com o que de bom se fez e faz e sacudir dos ombros tudo o que foi, e é, mal feito. Como se houvesse um PSD Bom e um PSD Mau.

Se houve o bem feito, e impossível seria que o não houvesse por maior que fosse a incompetência, este convive, muito mal, com muita imperfeição. Obras feitas sem qualquer sentido e necessidade. Inegável por mais que as conclusões de pseudo-comissões de inquérito concluam o oposto.

Obras que constantemente se afastam dos preços adjudicados, custando, por vezes, o dobro ou mais. Obras que não vão acompanhadas por nenhum estudo de necessidade, ou de custo/benefício. Obras que não mencionam custos de manutenção. Obras feitas com um determinado destino, que é abandonado e trocado por outro, que requer novas obras por ficarem devolutas. Obras feitas à medida dos interesses de alguns, que acabam por ser deitadas abaixo ao fim de uns anos, para se refazer tudo de novo, com os custos que isso tem.

Nada se perspectiva com o longo prazo no horizonte. O que conta é o ciclo eleitoral de quatro anos e a inauguraçãozinha. Tudo é pensado sobre o imediato e fruto de um voluntarismo idiota ou de achismos sem qualquer sentido.

Ora se constrói um cais para atracar navios, ora esse cais só serve para protecção, ora se prolonga a Pontinha para que se o possa utilizar, ora esse prolongamento é só para proteger a cidade de “tsunamis”.

Por exemplo, e para que não me alongue muito com evidências que só não vê quem não quer, nos últimos tempos, e de uma assentada, conseguimos chegar a valores de obras inúteis, ou para manter umas tantas, no montante de 420 milhões de euros: 150 milhões para a Pontinha, 30 milhões para um teleférico pindérico no Curral das Freiras e 240 milhões para tapar buracos da Sociedades de Desenvolvimento. Ou seja, em verdadeiras inutilidades, vão ser gastos cerca de ¼ do valor de um normal Orçamento Regional. Coisa que parece só fazer impressão a umas dúzias de idiotas como eu.

4. Não me canso de elencar aqui exemplos do que vai dito acima. Do penedo do Sono ao kartódromo, passando pelo Estádio de Desportos de Praia, no Porto Santo; da Fábrica das Algas à Urbanização do Campo de Golfe, também na Ilha Dourada; a Fábrica das Moscas na Camacha; o Fórum Machico, que entre o projecto e a sua conclusão, sofreu tantas alterações que ficou irreconhecível e desaproveitado; o estacionamento e edifício na Ribeira da Boa Ventura, em Santa Cruz, e o Complexo das Salinas em Câmara de Lobos; a trapalhada da construção da Gare do Porto do Funchal e respectivas mangas; os heliportos descontinuados do Porto Moniz e do Hospital Nélio Mendonça; a inenarrável Marina do Lugar de Baixo; as piscinas e pavilhões construídos em tudo o que era canto; os parques empresariais que nasceram como cogumelos; o necessário Laboratório Veterinário que ficou pela metade; o edifício para queima de resíduos hospitalares no HCF, que pela metade ficou; a Lagoa do Santo e outras que por aí andam; o Parque Temático, o Parque Desportivo de Água de Pena…

5. A pergunta que se torna necessária, ou melhor dizendo, a “sacrossanta” pergunta, não é se houve ou não desenvolvimento. Muito mal seria se, ao fim de 48 anos de Autonomia (?), tudo estivesse na mesma.

A obrigatória e “sacrossanta” pergunta é a que conseguir a resposta sobre que desenvolvimento teríamos, se este fartar vilanagem de desperdiçar dinheiro não tivesse ocorrido. Onde estaríamos hoje sem este modelo de política desenvolvimentista feito em cima do joelho, sem quê, nem por quê? O que seríamos hoje se mais cuidadosos e estudiosos relativamente aos passos que demos. Se o desperdício de milhões mal aplicados não se tivesse verificado.

6. Pela minha parte não tenho nada, absolutamente nada, a agradecer ao PSD Madeira. Agradeço aos contribuintes europeus, portugueses e, acima de tudo, aos contribuintes madeirenses, pois foi com o seu dinheiro que se pagou o bom e o mau. Esses, sim, são os meus heróis. Bem hajam.

7. 320 mil euros pagos à Fremantle para fazer um “Preço Certo” em directo a partir da Madeira. Com direito a Albuquerque e filho a cantar e a tocar, a Secretário Regional e a artistas madeirenses a tocar à “borliu” com a useira desculpa que estar ali é promoção. Dizem-me que as passagens, transportes locais e estadias foram pagas pelo Governo, extra subsídio. Mas não acredito nisso. Só pode ser má-língua.

Tudo feito em cima das Casas do Povo, braço armado da governação. Uma encenação perfeita e bem paga.

Pelo valor quase que me obriguei a ver um pouco. Assim como assim, também ali está dinheiro meu, por mais ínfimo que seja. O que vi foi a mais vil e abjecta manobra de propaganda de que tenho memória. Digna dos maiores propagandistas da história.