E por fim...o 38!
É indescritível o sabor de um título quando se é apaixonado por futebol. São 10 meses de sofrimento intenso, neste caso de muitas alegrias, uma ou outra desilusão e acima de tudo uma angustia final, que convenhamos, era escusada, mas parece que no Sport Lisboa e Benfica nada se consegue de forma folgada. Tem que ser sempre arrancado a ferros, à custa de muito esforço e suor. Foram anos difíceis estes últimos, em que a uma deficiente estratégia para o futebol com sucessivas apostas erradas ( quer jogadores ou treinadores ) se juntaram casos e suspeitas que desenharam uma autentica tempestade perfeita e que culminou com a saída de Luis Filipe Vieira e a ascensão de Rui Costa. Não sou daqueles que acha que de repente está tudo bem uma vez que os protagonistas são praticamente os mesmos, mas reconheço e valorizo a forma clara como se definiu uma aposta no desporto rei consubstanciada em escolhas mais criteriosas e menos ao sabor do que Jorge Mendes nos foi impondo ao longo dos tempos.
Voltando a este título, que é de facto o que mais importa, não há dúvida nenhuma que começámos a ganhar com a escolha do treinador Roger Schimdt. Quer pela intensidade aplicada ao jogo, como pela postura e discurso diferenciados, uma forma de estar que o futebol português ( sempre envolvido em casos e polémicas ) bem agradece. O alemão trouxe também uma rentabilização da matéria prima muito para além do que eu achava que fosse possível, sobretudo João Mário, que pese embora o paupérrimo final de temporada foi um dos grandes obreiros desta conquista. O facto de não ter receio em dar uma oportunidade aos mais jovens produtos que florescem no Seixal é outro sinal muito positivo do seu reinado. A somar à grande descoberta do defesa central António Silva, o regresso de um revigorado Florentino Luís, que só pode admirar quem nunca teve atento, a confiança em Gonçalo Ramos e já a época ia a meio um João Neves que deixa água na boca para o que aí vem. Na próxima época haverá seguramente mais, talvez um Martim Neto e o renascer de Henrique Araújo ou o regresso de dois jogadores em que deposito enormes esperanças. Tiago Gouveia e Tomás Araújo.
Este campeonato trouxe, ainda assim, muito mais sinais do que está para vir e do que é importante fazer. O receio de que o técnico alemão não tenha plano B e a dificuldade em não ser manietado nos jogos grandes deixam-nos alguma preocupação. A certeza de que o nosso guarda redes é bom mas podemos ter melhor, de que Grimaldo fez a melhor época da carreira e tem o direito de escolher o seu destino, até porque também entrou sem custos. Devemos-lhe um agradecimento mas precisamos de encontrar um substituto à altura. Ficará para sempre a dúvida do que poderíamos nós ter atingido se Enzo Fernandez tivesse ficado e o amargo de boca de termos perdido nos quartos de final da Liga dos Campeões contra uma equipa que estava ao alcance do futebol que praticámos durante a fase de grupos e que daí à tão desejada final seria um pulinho. Chiquinho não é definitivamente Enzo e muito menos Zidane e isso custou-nos o ir mais longe. A não ida ao mercado para repor a perda responsabiliza a estrutura por este duro e intenso final.
Fica-me na memória sobretudo o que o futebol tem de melhor. As conversas intensas com os amigos e as idas aos jogos com eles mas de forma especial com o meu Pai. É um ritual que construímos juntos ao longo de muitos anos. Desde que entrávamos horas antes no velhinho estádio da Luz, para fugirmos da confusão e para que me deixassem ficar ao lado dele, sentadinho nas escadas ao lado do lugar 1 bem no enfiamento da linha de meio campo, com as sandes feitas pela minha mãe que nos ajudavam a matar a fome e a passar o tempo. Desde então nunca mais deixámos de ir à bola juntos. Com o passar do tempo ( e já em idade para isso ) começámos a juntar ao ritual, um bitoque antes ou após o jogo e umas imperiais para animar a coisa. Hoje acho que olho para ele como ele olhava para mim quando começámos a ir ao estádio. Sempre com cuidado para ver se está tudo bem, preocupado se vai bem agasalhado e com vontade de assistir a um golo após outro que nos leva num abraço forte e apertado e numa viagem de alegria conjunta que se parece fundir. Não troco a companhia dele por nada nem ninguém neste mundo. Por isso este 38 é nosso também, é de todos os que festejam um pouco por esse mundo fora, e como são bonitas de ver tantas demonstrações de amor por um emblema que nos carrega de forma única. É um orgulho enorme ser benfiquista, é uma chama imensa que move multidões e que torna este clube tão particular, tão especial.
Não se explica. O lado bom, o das famílias que se juntam, os pais que passam esse amor aos filhos, os avós que transmitem a mística aos netos as mães e as avós como as minhas que sofrem com o meu sofrimento.
Esta é uma vitoria incontestável, mágica, imponente, incrível!
Lo lo lo lo ro lo lo e o Benfica ganhou!!
P.S. Um abraço especial para os meus amigos Paulinho e Carcaça e para o Japonês seu Pai.