País

Catarina Martins diz que no BE "gerações não se atropelam", mas reforçam-se

None
Foto Global Imagens

A coordenadora bloquista, Catarina Martins, disse hoje, no seu discurso de despedida, que no BE as "gerações não se atropelam", mas "reforçam-se", recordando o legado dos fundadores do partido e de João Semedo.

"Sei bem que a camaradagem, a convicção, o debate franco, a luta ombro a ombro não se comemoram. Partilham-se, mas permitam-me que hoje vos diga o quão grata estou pelo privilégio de ter seguido convosco no caminho destes últimos 11 anos e pelo que mais virá", disse Catarina Martins, no último discurso enquanto coordenadora do BE, na XIII Convenção Nacional, em Lisboa.

Recordando a "enorme generosidade" de Francisco Louçã, que a antecedeu na liderança do partido, a coordenadora do BE enalteceu ainda Luís Fazenda e Fernando Rosas.

"De formas diversas, reinventaram a sua intervenção no Bloco e ensinaram-nos que as gerações não se atropelam nem se substituem, as gerações no BE reforçam-se, acrescentam-se", enfatizou, recordando ainda os ensinamentos que deixou o outro fundador do BE Miguel Portas.

Um dos maiores orgulhos de Catarina Martins é, nas suas palavras, a promulgação da lei que despenaliza a morte medicamente assistida.

"Não é o único legado que nos deixa, longe disso, mas esta particular combinação de exigência e tolerância é a Lei João Semedo, e Portugal deve agradecer-lhe a generosidade com que se dedicou a esta causa como ao SNS até ao último dos seus dias", disse.

Na memória da bloquista têm "um lugar especial as camaradas".

"As fundadoras, as que abriram caminho, as que decidiram que não pediremos licença a ninguém e que nos ensinaram a responsabilidade da sororidade. As que, como eu, se juntaram depois, e lhes devem tanto. As que, como a Marisa e a Mariana, estiveram sempre 'mão na mão' nos momentos mais difíceis, e tantas outras, elas sabem quem são e não as esqueço", recordou.

Catarina Martins - que subiu ao palco ao som da música "Ready to Start", dos Arcade Fire - pediu aos delegados que não ouvissem este discurso como "uma despedida".

"Termino um mandato, continuo a caminhar aqui. Como sempre. E se olho este percurso, muito mais do que balanço do passado, quero tomar balanço para o futuro", disse, recordando que, ao longo de uma década, deu com a sua equipa "uma volta ao mundo de carro e comboio por cada ano, talvez duas em ano eleitoral".

Para a ainda líder do BE, "quem pensa que Portugal está condenado à vida sombria" ou mede o povo português "pela comparação com o PIB de não sei onde, não percebe" quem são os portugueses nem faz ideia "desta memória viva do 25 de Abril que ainda cá está".

"Falo-vos, por isso, do que não desistimos nunca de conquistar e do que conseguimos com a força do Bloco de Esquerda nestes anos", introduziu, tendo-se depois demorado a elencar algumas das conquistas que considera terem tido a contribuição do partido, como os manuais escolares gratuitos, a vinculação dos precários ou as alterações sobre o acesso à reforma.

O fim do discurso, que durou menos de meia hora, já foi com a sala a levantar-se e a aplaudir Catarina Martins, uma ovação de longos minutos de pé.

"É esquerda, é Bloco, é Bloco de Esquerda", ouvia-se, enquanto Catarina abraçava muitos dos presentes na sala, com destaque para um abraço, já nas filas do meio, aos fundadores Francisco Louça e Fernando Rosas.