Cardeal acusado em julgamento financeiro do Vaticano alega não poder defender-se
Um cardeal do Vaticano que está a ser julgado num caso de grandes crimes financeiros da Santa Sé alegou sexta-feira não poder defender-se adequadamente do "pesadelo dessas acusações" porque os promotores ocultaram evidências importantes da defesa.
O cardeal Angelo Becciu falou no tribunal depois de o juiz Giuseppe Pignatone rejeitar o último apelo dos seus advogados para aceder ao material.
Num decreto lido em voz alta, Giuseppe Pignatone colocou-se do lado dos promotores que argumentaram que as transcrições dos interrogatórios e das conversas do WhatsApp fazem agora parte de outra investigação e devem permanecer secretas.
Becciu, que já foi um dos cardeais mais influentes do Vaticano e um assessor próximo do Papa Francisco, disse que manteve fé no tribunal do Vaticano, mas estava "amargo" e "perplexo" com a decisão do juiz.
"A defesa foi humilhada -- não pode exercer plenamente o direito de defesa se não tiver todo o material", disse ao tribunal.
Becciu está a ser julgado, junto com outras nove pessoas, num caso relacionado com o investimento de 350 milhões de euros do Vaticano numa propriedade em Londres, que também inclui acusações de peculato na doação de fundos do Vaticano de Becciu para uma instituição de caridade administrada pelo irmão.
Becciu negou irregularidades, assim como os outros réus.
O material que os promotores retiveram inclui a transcrição dos interrogatórios de uma importante testemunha de acusação, monsenhor Alberto Perlasca, bem como 126 conversas no WhatsApp sobre ela.
Alberto Perlasca era o funcionário do Vaticano mais envolvido no negócio imobiliário de Londres e foi um dos principais suspeitos no início da investigação, mas tornou-se na principal testemunha da acusação em agosto de 2020, quando mudou a sua história e se voltou contra Becciu, seu ex-chefe.
As conversas foram colocadas em evidência em novembro, depois de Perlasca revelar ao tribunal que começou a cooperar com os promotores depois de receber ameaças e conselhos de uma mulher, Francesca Chaouqui.
A sugestão de que Chaouqui pode ter treinado Perlasca para trair Becciu, procurando vingança, colocou em questão a integridade da investigação.
As conversas do WhatsApp eram textos trocados entre Chaouqui e um amigo da família Perlasca.
Os advogados de Becciu queriam ter acesso às conversas para poder mostrar que Perlasca foi manipulado para fabricar reivindicações contra o cardeal.