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Capricho e Paixão

Oscar Wilde escreveu um dia: “A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho pode durar”.

Já todos tivemos as nossas paixões eternas e alguns, pequenos ou grandes, caprichos ao longo das nossas vidas.

Mas, saberemos diferenciá-los?

Uma paixão é uma impressão viva, uma grande inclinação ou predilecção, um afecto violento, um amor ardente, o objecto de um amor.

Um capricho é uma vontade súbita e infundada, um aferro obstinado, uma fantasia, um empenho em levar a cabo uma coisa sem razão ou motivo que obrigue.

Uma paixão é “eterna” enquanto dura a perturbação, o movimento desordenado do ânimo, e quando passa, é um grande desgosto, um grande pesar.

Penso que o que temos visto, sentido, ouvido nestes últimos dias, nas últimas semanas, até nos últimos meses, por parte que quem tem por obrigação governar, têm sido caprichos disfarçados de paixões eternas.

António Costa já disse que a sua paixão é Portugal, mas como já vimos, a eternidade da paixão é coisa efémera que só por capricho teima em manter-se à tona!

Além da sua “paixão” por Portugal, o nosso Primeiro Ministro demonstrou recentemente paixão eterna pelo ministro Galamba, utilizando-o para prolongar o seu capricho que é manter-se no poder enquanto durar a cegueira do povo, enquanto o povo não lhe diz que “o rei vai nu”!

Vivemos tempos conturbados, desordenadores de ânimos, eventualmente motivadores de grandes pesares, tornando-se cada vez mais difícil esquecermos as dificuldades que somos obrigados a enfrentar devido a vários caprichos, colectivos ou individuais, de quem sem paixão e caprichosamente, anda a mexer todos os cordelinhos de uma economia que tarda em recuperar.

Será que entre os que comandam, seja a nível global, seja a nível local, sob uma capa de grande paixão pelo “esforço” que dizem fazer, não se escondem caprichos bem maiores que a paixão?

Todos os dias ouvimos os comandantes do mundo, global e local, porque, sim, há imensos mundos neste mundo

(o tacho de presidente de um banco, de uma agência de rating, de um país, de um governo, de uma câmara, de tanto lugarzinho transportador de alguma “importância” pessoal, de uma qualquer empresa, pública ou não),

dizerem que são eles que têm o conhecimento de como se devem fazer as coisas e que nós, pobres mortais, devemos estar gratos pela paixão que têm pela causa pública, onde só estão por dever e não por outra razão (por capricho, nunca!), e que dariam a vida pela sua causa, e que o nosso dever é dar Graças pela paixão que colocam na resolução dos problemas que nos afligem diariamente.

Mas, referindo Oscar Wilde novamente, “Uma coisa não é necessariamente verdadeira só porque um homem morre por ela”.

Não esqueçamos que esses homens estão somente a defender os seus tronos, os seus caprichos, que tentam definir como paixão, para que os sigamos com a cegueira própria das paixões, para que não tenhamos, dizem eles, um grande pesar, um grande desgosto, maior do que já temos actualmente, quando a paixão pelo canto do mundo onde vivemos, trabalhamos, descansamos e amamos terminar.

Neste momento o nosso Primeiro Ministro parece estar naquela carreira da Carris, em Lisboa, n.º 38 – Calvário, via Ajuda, que era o seu destino programado. Mas adormeceu e, quando deu por si, tinha passado a Ajuda e chegado ao Calvário. É assim, se adormecemos quando precisamos de “ajuda”, podemos nos ver a chegar ao “calvário”, só porque alguns quiseram ver os seus caprichos vingarem e os seus tronos continuarem sem reclamações apaixonadas.

Precisamos, com urgência, de distinguir capricho e paixão, para mantê-la viva e acabar com aquele, até porque, como dizia Montaigne:

“Sobre o mais belo trono nunca se sentou senão um rabo”.