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As aberrantes desigualdades sociais

“Se é madeirense, sabe bem como as coisas funcionam”, afirmou uma ex-deputada social democrata em resposta a uma questão colocada pela procuradora da República acerca de um julgamento sobre um Lar do Porto Moniz.

A peculiar frase teria passado despercebida, não fora esse o sentir da maioria dos madeirenses que assistem impávidos e serenos ao desenrolar das “coisas” nesta terra governada pelo mesma cor política há quase meio século. A maioria dos madeirenses já se mentalizou que as coisas podem estar mal mas não vale a pena mexer. Já aceitaram que o Governo faça tudo o que bem entende porque se vier outro acham que ainda será pior. Aceitaram que o Governo venda a Madeira aos turistas - é verdade que o turismo é importante – mas esquece que os madeirenses pagam a alimentação, a habitação e tudo o resto ao mesmo preço não tendo o mesmo poder de compra. A nossa terra é um paraíso para os forasteiros mas está a tornar-se um pesadelo para o dia a dia dos residentes. É verdade que o desemprego tem diminuído graças ao afluxo anormal de turistas, logo, mais pessoas com salário mas de pouco serve porque sendo baixos continuam a não poder fazer face ao elevado custo de vida. Os pensionistas, por sua vez, vêm as suas escassas reformas a não chegarem para meio mês. A região não está a ser bem governada se o Governo tiver como principal objetivo acumular riqueza para os cofres da Região e a população a viver na miséria. Não fora as instituições de solidariedade social e os subsídios para ajudar as pessoas e já muitos teriam morrido de fome. Se, como apregoa o Governo Regional, a Madeira está a produzir mais riqueza ela terá de ser para usufruto da população e não para encher os cofres e os bolsos dos amigos do regime. Não queremos uma região rica com o povo a viver de migalhas. Queremos viver com dignidade, pois é o nosso trabalho e os nossos impostos que mantêm a Madeira. Os nossos governantes todos os dias fazem alarde que a Região está a desenvolver-se economicamente mas a verdade é que este modelo de desenvolvimento não serve à população. O desenvolvimento da Madeira não pode servir para o presidente do Governo e o presidente da Câmara esbanjarem a riqueza e os trabalhadores sem dinheiro para enfrentar o custo de vida. A Madeira, parece nadar em dinheiro com obras de milhões para um lado e milhões para o outro mostrando uma ilha rica a quem vem de fora mas com pobreza envergonhada no seu interior. Como podem fazer de conta que vivemos numa ilha rica quando até faltam medicamentos para tratamento oncológico na farmácia do hospital e milhares de utentes em lista de espera? Não queremos ser como a Coreia do Norte que gasta 60% do seu PIB em armamento e 90% da população vive em pobreza extrema.

Receio que o PRR da U.E. o qual distribui muitos milhões para desenvolver a Região, irá esfumar-se em obras inúteis e “inventadas” e contratação de pessoal para a máquina governamental com vista às próximas eleições. Penso que os partidos da oposição precisam estar mais atentos e denunciar as contratações para os diversos departamentos do G.R. onde se emprega muitos “boys and girl” apenas porque rende votos. A oposição deve inquirir, por exemplo, porque é que o IHM (Investimentos habitacionais da Madeira) sob a alçada da Secretaria do Equipamento e Infra-estruturas contratou recentemente vários chefias quando tem nos seus quadros cerca de 150 colaboradores e entre eles ninguém tivesse competências para chefiar. Seria exaustivo dar mais exemplos mas é do domínio público que isto é prática nas diversas secretarias regionais e outros organismos governamentais onde entram colaboradores apenas porque são conhecidos, familiares ou amigos dos amigos. A máquina do G.R. já conta com 21 mil trabalhadores sendo que desde 2017 já foram contratados cerca de 2000. Já o Dr. Jardim dizia que a Região deveria contrair dívida para as gerações futuras pagarem e isto continua a ser a cartilha do PSD-M.

Um exemplo paradigmático de que o povo é sempre quem sofre na pele a má governação dos eleitos é o caso dos maiores bancos que no primeiro trimestre aumentaram os lucros em 54%, mais exatamente 913,3 milhões, devido ao aumento das taxas de juro, todavia as taxas de juro para as poupanças dos depositantes continuam em uns míseros 0,5 %. isto é a prova provada que toda a conjuntura económica está a criar mais desigualdade e injustiça social, pois quando os bancos têm prejuízos de milhões o contribuinte é chamado a pagar mas quando têm lucros fabulosos dividem-nos pelos acionistas.

P.S. Agora, com a badalada privatização da TAP não esqueçam de negociar o serviço público para as ilhas.