Cuidado para não cair!
Quem já viajou de comboio ou elétrico, com certeza que se lembra de ter ouvido o aviso para ter em atenção o espaço entre o trem e a plataforma. Se aqui convoco esta memória é porque a considero uma boa alegoria para este ano de eleições regionais. É que entre o discurso e a realidade vai um espaço onde é possível cair se estivermos distraídos.
O que fica neste vão não é coisa de somenos importância. É que na terra onde tudo parece ser um sucesso, a acreditar no discurso da política institucional e instituída, existe um vão onde fica a realidade dos que passam por dificuldades, dos que esperam e desesperam nas listas de espera do sistema regional de saúde, dos jovens que não conseguem emprego, das famílias a contas com subida da inflação e das taxas de juro, dos pobres e esquecidos sem voz no discurso da Madeira de sucesso. A mesma Madeira onde um partido se eterniza no poder sem resolver os problemas crónicos das margens, que cada vez mais se evidenciam e crescem.
Neste vão entre a realidade e o discurso, vão começar também a surgir as críticas habituais, cheias de promessas e de paraísos na terra. Cá por Santa Cruz, já começou a habitual ladainha e o recurso a truques de ilusionismo com as ajudas do costume, vulgo empresas públicas, sociedades e quejandos.
A questão da água é paradigmática. De repente, e porque julgam ter a faca e o queijo na mão, esgrimem argumentos de falta de investimento no combate às perdas de água. Esta não é apenas uma falsa questão como é uma falta de vergonha virem acusar precisamente quem começou a investir num setor durante anos esquecido, negligenciado e ignorado. Aliás, quem foi que deixou isto chegar ao estado atual? Fomos nós em 10 anos, ou foram os nossos antecessores em mais de três décadas? Aliás, mais uma pergunta, quem começou a investir, quem começou a mexer este concelho com investimentos que já se notam como a melhoria das estradas, a melhoria dos centros urbanos e áreas de lazer como o Largo da Achada e os Reis Magos? E ainda outra pergunta: quem lançou um programa cultural e recreativo que colocou Santa Cruz no mapa, com realizações como o Santa Cruz em Flor e o Natal? E, mais uma pergunta, quem lançou programas sociais como nunca existiram neste concelho?
Digamos que a resposta a todas estas perguntas é a garantia de não cairmos no tal vão do discurso oficial daqueles que agora prometem fazer tudo em Santa Cruz, quando nada fizeram quando cá estiveram e quando pouco fazem para resolver os problemas crónicos da Madeira.