A Madeira tem a mais baixa taxa de mortalidade em oncologia do país?
O tema voltou a ser destacado no debate de hoje, na Assembleia Legislativa da Madeira, onde esteve Pedro Ramos a 'prestar contas' do estado da Saúde da Região
Hoje, na Assembleia Legislativa da Madeira, o estado da Saúde na Região voltou a estar em destaque, por força do debate potestativo requerido pelo grupo parlamentar do JPP, que ‘obrigou’ Pedro Ramos ter de esclarecer os deputados, sobretudo da oposição.
As listas de espera estiveram na ordem do dia, mas houve outros assuntos que não foram deixados ao acaso, tanto pelo governante que tutela a pasta da Saúde, como por quem procurou dirimir o porquê da exclusão de quase duas dezenas de especialidades das contas actuais apresentadas pelo Serviço Regional de Saúde (SESARAM).
Foi numa resposta ao socialista Vítor Freitas, que o secretário regional de Saúde e Protecção Civil apontou que a Madeira tem a mais baixa taxa de mortalidade em oncologia do país, refutando a ideia de que se morre mais por cancro na Região do que no todo nacional.
“Nós já tivemos piores indicadores na área da oncologia. Neste momento temos a taxa de mortalidade em oncologia mais baixa do país. É melhor que faça a pesquisa, no sentido de verificar, de facto, a verdadeira situação”, disse Pedro Ramos.
Mas terá o governante razão? É isso que vamos procurar esclarecer.
Na semana passada, o Instituto Nacional de Estatística (INE) e a Direcção Regional de Estatística (DREM) deram a conhecer as mais recentes estatísticas da Saúde, onde se inclui o levantamento do número de óbitos associado às diferentes causas de morte, referentes ao ano de 2021, o último para o qual os números já foram tornados públicos.
De acordo com esses dados, tal como o DIÁRIO noticiou no passado sábado, o número de mortes associadas a tumores malignos, em 2021, na Madeira representa 23,5%, enquanto a nível nacional essa relação foi de 22,0%. A diferença pode não ser muito significativa, mas atendendo aos números apontados pelo INE e pela DREM, a Região regista proporcionalmente mais óbitos do que o todo nacional.
No ano em apreço, a Madeira somou 676 óbitos associados ao cancro, entre o total de 2.875 mortes; no resto do país, ou seja, considerando a população residente no continente e nos Açores, foram 26.901 mortes pela mesma causa (27.577 no total nacional), entre um total de 121.966 falecimentos (124.841 no total nacional). Estes números são provisórios, nota o INE, que tem vindo a fazer ligeiros ajustes.
Olhando à taxa de mortalidade da doença oncológica por mil habitantes, o cenário é, naturalmente, idêntico. Na Madeira, esse quociente foi de 2,69‰, para o ano em apreço, enquanto no todo nacional estamos perante 2,66‰. Para já, não são conhecidos os dados estatísticos para os Açores, de modo a ser possível uma comparação entre as duas regiões autónomas.
Recuando, no ano de 2020, a Madeira estava melhor do que o todo nacional e do que o continente ou os Açores isolados, ao registar uma taxa de mortalidade oncológica por mil habitantes de 2,6‰; o todo nacional cifrava-se nos 2,8‰, o mesmo que no continente isolado; nos Açores essa taxa foi de 2,7‰.
Nós já tivemos piores indicadores na área da oncologia. Neste momento temos a taxa de mortalidade em oncologia mais baixa do país. É melhor que faça a pesquisa, no sentido de verificar, de facto, a verdadeira situação. Pedro Ramos, secretário regional de Saúde e Protecção Civil
O DIÁRIO procurou esclarecer junto do Gabinete de Pedro Ramos em que números se teria baseado o governante para afirmar que a Madeira tem a taxa de mortalidade em oncologia mais baixa do país. Mas, até ao momento da publicação deste trabalho, não foi possível obter qualquer resposta.
No parlamento, Pedro Ramos garantiu a Vítor Freitas que “os indicadores não são piores. É preciso fazer as comparações no mesmo timing”.
Além disso, o secretário regional alertou para a necessidade de ser tido em conta que “estamos a lidar com uma população mais envelhecida, mais vulnerável, que vai ter cancro”, tendo, além disso, referido ser necessário “actuar cada vez mais depressa”.
Naturalmente o cancro mata. Por isso nós temos de ter sempre uma actividade assistencial nesta área que permita o diagnóstico precoce, permita, de facto, o estadiamento precoce, permita a estratégia correcta para tratamento das doenças, e essencialmente que utilizemos as novas técnicas, não só cirúrgicas, mas também medicamentosas, nomeadamente os medicamentos inovadores, para diminuirmos toda esta problemática. Pedro Ramos, secretário regional de Saúde e Protecção Civil
A par disso, lembrou que “todo este processo é um processo dinâmico”, vaticinante que “muito provavelmente, num futuro muito próximo, eu estarei aqui novamente a falar de saúde e num debate da saúde com outros dados”, concluindo, falando para o socialista, que “provavelmente os dados já não vão permitir esse seu tipo de intervenção”.
Certo é que que, limitando a análise do que foi dito esta manhã na Assembleia Legislativa da Madeira aos dados já apresentados pelo INE e pela DREM referentes ao ano de 2021, a afirmação de Pedro Ramos será falsa. Mas o certo é que o governante poderá ter em seu poder dados referentes a 2022, ou mesmo outros dados de 2021, que não sejam considerados provisórios, dando ‘cobertura’ ao que foi pelo secretário regional referido sobre a mortalidade oncológica regional. A ser assim, e porque não conhecemos os dados, a apreciação desta sua afirmação será imprecisa.