O homicídio de uma mulher ocorrido, ontem, no sítio da Meia Légua (Ribeira Brava), terá alegadamente sido cometido pelo seu companheiro. O homem, levadeiro de profissão e com 49 anos de idade, terá utilizado uma arma de fogo para tirar a vida à sua companheira, de 53 anos. Ambos gostavam de “beber um copinho”, dizem os vizinhos. Em comentários na página do DIÁRIO no Facebook, vários leitores chamaram à atenção para um padrão de consumo excessivo de álcool e de violência familiar neste tipo de crime. Será verdade que estes dois factores estão normalmente associados aos homicídios registados na Madeira?

Nas cerca das três dezenas de casos de homicídio verificados nos últimos dez anos no nosso arquipélago verifica-se, efectivamente, que as relações familiares e/ou o alcoolismo estão presentes na maioria das situações. Apresentamos de seguida um resumo desses casos.

2013

- A 8 de Janeiro de 2013, o arguido José Ferreira, de 35 anos, desentendeu-se com um homem com quem estava a jogar dominó num bar da Serra de Água. Este homem, embriagado e em tom ameaçador, exigia jogar no lugar de José Ferreira. “Perante esta situação, o arguido, que tinha receio de que o ofendido o pudesse agredir ou matar, dada a sua natureza violenta, levantou-se da mesa de jogo e saiu do estabelecimento”. Regressou depois ao local com uma arma de fogo com a qual efectuou dois disparos na direcção da vítima, provocando a sua morte. O Tribunal Judicial da Ponta do Sol condenou a 13 anos de cadeia.

- A 19 de Março de 2013, um homem de 61 anos foi detido por suspeita de ter matado o irmão de 50 anos, a golpes de enxada, no sítio da Ribeira Tem-te Não Caias, no Porto da Cruz, Machico. Os dois irmãos viviam sozinhos numa moradia isolada, há cerca de cinco meses. O desfecho trágico acabou por não surpreender os vizinhos, que falavam de constantes discussões entre ambos, muitas vezes com excessos de álcool à mistura.

2014

- A 25 de Julho de 2014, uma mulher desempregada, de 42 anos e natural do continente, foi morta pelo companheiro, de 38 anos, com uma podoa de rachar lenha na casa onde viviam, no Caminho da Barreira. A vítima trabalhava num centro de reabilitação de toxicodependentes no continente quando conheceu o madeirense que estava ali a cumprir um programa de reabilitação. Apaixonaram-se e vieram viver para a Madeira. Supostamente, o homem teve uma recaída e passou a consumir ‘bloom’ e terá sido sob o efeito desta droga que matou a companheira.

2015

- A 1 de Março de 2015, um casal matou o ex-deputado do CDS Carlos Morgado, na residencial Colombo, no Funchal. Corpo foi esquartejado e enterrado, num terreno no Caminho D. João. O objectivo do crime era furtar as quantias na posse da vítima.

- A 29 de Março de 2015, um homem matou um cidadão romeno à punhalada numa casa situada na Rua dos Arrependidos, próximo do ISAL – Instituto Superior de Administração e Línguas. Os dois homens, um português e outro de nacionalidade romena, residiam ambos naquela moradia cujos quartos são normalmente alugados a cidadãos estrangeiros que se encontram na Região a trabalhar nos sectores primários, nomeadamente na construção civil. O episódio violento que terminou em morte, afigurava-se já uma tragédia anunciada. De acordo com vizinhos, há algum tempo que eram sobejamente conhecidas as acesas discussões entre os dois indivíduos quase sempre alcoolizados.

2016

- A 6 de Janeiro de 2016, uma tragédia enlutava a zona alta da Ponta do Sol com a morte de Violante e Vítor, mãe e filho, presumivelmente por envenenamento. A mulher de 55 anos, desempregada e doente oncológica, terá matado o filho mais novo, um rapaz de 11 anos, suicidando-se de seguida. Quando foram encontrados, na cama da casa na Travessa dos Castanheiros, estavam já cadáveres. O triste desfecho aconteceu poucas semanas depois do companheiro da mulher ter-se suicidado.

- Em Janeiro de 2016, o arguido António Agrela violou a sogra de 88 anos e provocou a sua morte, no Arco de S. Jorge. Foi condenado a 12 anos de prisão.

- A 8 de Janeiro de 2016, no Porto Santo, Alfredo Borges, um homem de 41 anos, matou a sua ex-companheira Maria Madalena Teixeira. Empunhando uma faca com 20 centímetros de lâmina, o agressor golpeou a vítima na face, pescoço, tórax e braços, provocando-lhe a morte ao cortar a veia jugular. Os dois viviam juntos desde 2005 mas com um historial de separações, desentendimentos e ameaças feitas pelo agressor, que tinha problemas de alcoolismo e toxicodependência.

- A 29 de Julho de 2016, um homem de 40 anos terá agredido outro com uma arma branca, após uma discussão entre ambos, numa das ruas do Funchal. Os ferimentos infligidos na zona abdominal levaram à morte da vítima. Os homens envolvidos nesta discussão eram ambos sem-abrigo, sendo que estariam alterados devido ao consumo de álcool. A vítima, com aproximadamente 50 anos, ainda foi transportada ao Hospital e sujeita a cirurgia, mas devido à gravidade dos ferimentos não foi possível salvá-la.

2017

- A 11 de Janeiro de 2017, Leonel Correia, um antigo carreiro do Monte, matou a tiro o seu antigo chefe, Norberto Gouveia. Foi condenado a 20 anos de prisão.

- A 25 de Março de 2017, na casa de família no Arco da Calheta, Alcino Jardim violou e matou a mãe de 79 anos. Foi condenado a 25 anos de prisão.

- Na madrugada de 15 de Abril de 2017, num apartamento na zona da Ajuda, o preparador físico e ex-atleta Valter Moreno matou a ex-companheira Ilídia Macedo. Foi condenado a 23 anos de prisão.

- A 18 de Maio de 2017, em Machico, o arguido Jorge Olival matou a tia de 66 anos e tentou matar o tio. Foi condenado a 25 anos de prisão.

- Na noite de 12 de Agosto de 2017, na casa da família, em Santana, Emiliano Martins matou com tiros de caçadeira o pai, a mãe e a irmã. Foi condenado a 25 anos de prisão.

2018

- Na noite de 27 de Março de 2018, num apartamento da Rua da Carne Azeda, Rita Alveno, de 56 anos, matou à facada o marido, Rogério Alveno. Foi condenada a 14 anos de prisão.

- Em Maio de 2018, numa casa no Beco da Jacinta, no Imaculado Coração de Maria, o arguido Narciso Vasconcelos matou o ex-cunhado Henrique Sousa. O corpo foi esquartejado e ocultado num buraco na cozinha. Foi condenado a 13 anos de prisão.

2019

- A 29 de Julho de 2019, numa casa no Jardim do Mar, o pescador Ludgero Oliveira (39 anos) matou a companheira Ester Cabral (53 anos). A vítima apresentava sinais de agressões violentas na zona da cabeça, bem como vários cortes.

- Na tarde de 26 de Setembro de 2019, numa casa da Rua Nova Pedro José de Ornelas, em Santa Luzia, o arguido Eduardo Fernandes (61 anos) matou o irmão Ricardo Fernandes (48 anos) com uma facada no coração.

2020

- Em Maio de 2020, numa residência na Rua da Olaria (Caniço), um jovem de 23 anos matou Álvaro Gomes, de 61 anos. A vítima foi encontrada sem vida na sua habitação, com as mãos amarradas à frente do tronco e a cabeça totalmente envolvida em película aderente, prostrada no poliban da casa de banho, com a água a correr. O seu carro foi abandonado na Camacha e o alegado homicida terá utilizado o seu cartão bancário para efectuar levantamentos após o crime.

- Na noite de 20 de Novembro de 2020, num bar da Rua das Hortas, José Luís, um técnico de telecomunicações de 64 anos, matou a tiro José Carlos dos Santos, conhecido como Carlão, de 51 anos. Terá também disparado sobre outro homem, que ficou ferido. Faziam parte de um grupo que convivia naquela noite no bar e supostamente terão discutido sobre quem deveria pagar uma rodada de bebidas alcóolicas.

- A 30 de Dezembro de 2020, num apartamento nas Romeiras (Santo António), Abel Arreiol matou à facada a ex-companheira.

2021

- Na tarde de 22 de Maio de 2021, numa casa no Caminho do Poço, zona alta da Ribeira Brava, o arguido Emanuel Pereira (52 anos) degolou com uma faca de cozinha a vizinha Maria Laurinda Macedo (86 anos). O agressor estava alcoolizado.

- Na tarde de 18 de Julho de 2021, na casa da família, no Caminho do Tanque, Arco da Calheta, o arguido Agostinho (44 anos) matou à facada a irmã Sónia (40 anos). Ambos teriam problemas com drogas.

- A 20 de Dezembro de 2021, num apartamento na Ajuda, um homem matou a mulher (43 anos) e o filho (10 anos). Terá depois cometido suicídio, precipitando-se de uma falésia no Caniçal. Duas semanas antes, a vítima tinha apresentado queixa-crime por maus tratos em contexto de violência doméstica.

2022

- Na madrugada de 2 de Fevereiro de 2022, o sem-abrigo Sérgio Santos (47 anos) esfaqueou mortalmente Noé Costa, outro sem-abrigo que dormia à porta do Mercado dos Lavradores. Ambos eram toxicodependentes e alcoólicos.

- A 13 de Novembro de 2022, o dono de uma casa no Caminho do Poço Barral matou à facada um intruso que supostamente entrara no seu terreno para roubar fruta.

2023

A 22 de Maio de 2023, um levadeiro de 49 anos matou a companheira com um tiro no pescoço, de uma pistola calibre 6.35 mm. O crime teve lugar na moradia do casal, no sítio da Meia Légua, Ribeira Brava.