Coordenadora de grupo de apoio admite sinalizar à Igreja necessidade de compensação para vítimas de abusos
A coordenadora do Grupo VITA, Rute Agulhas, admite que a nova estrutura de acompanhamento das vítimas de abuso sexual em contexto eclesiástico pode vir a sinalizar à Igreja Católica portuguesa eventuais necessidades de reparação financeira.
Embora sublinhe que "são muito poucas" as vítimas que acompanhou ao longo da sua carreira "para quem o apoio financeiro faria, de facto, uma diferença muito significativa no seu processo de elaboração do trauma", a psicóloga designada pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para liderar a nova entidade de ajuda às pessoas sexualmente abusadas no seio da Igreja referiu que essa dimensão monetária também será tida em conta.
"Em cada pessoa que nos chegar vamos tentar perceber as suas necessidades. E se em algum momento percebermos que algum apoio económico poderia fazer a diferença e ser determinante para aquela pessoa, pois naturalmente essa informação será passada à diocese nesse sentido", esclareceu, em entrevista à Lusa, a coordenadora do grupo VITA.
"Aquilo que normalmente as vítimas mais valorizam, e que é muito importante do ponto de vista da recuperação, é sentir que são acreditadas, que não são culpabilizadas nem julgadas, e que a Igreja olha para elas de uma forma positiva, de suporte e de validação da sua situação. No entanto, para algumas pessoas pode haver essa outra dimensão, à qual nós naturalmente estamos também atentos", afirmou.
Apesar de frisar que não cabe ao Grupo VITA indicar a quantidade de dinheiro que uma vítima possa vir eventualmente a receber, Rute Agulhas sublinhou que tal será feito se se perceber "que é importante para aquela pessoa em concreto", distinguindo a postura da Igreja entre a ideia de indemnização às vítimas e uma noção de reparação pelos abusos.
"A Igreja está a fazer uma distinção entre indemnização e reparação. E percebo que aquilo que eu disse sobre alguma necessidade de apoio económico de alguma pessoa em concreto possa ser enquadrado aqui na lógica de reparação e que essa reparação também possa envolver um apoio económico. Naturalmente, depois cabe à Igreja decidir se o dá ou não e em que moldes. A nós cabe essa sensibilização e informação depois da escuta da pessoa", explicou.
A coordenadora do Grupo VITA defendeu que esta questão financeira não deve ser excluída do âmbito de atuação junto das vítimas, mas sim integrada na abordagem, ativando eventuais respostas de auxílio caso isso seja relevante para a pessoa.
Sobre os meios conferidos para o trabalho da nova estrutura, a psicóloga referiu "uma logística muito grande", visível através da criação da bolsa de profissionais para ajudar as vítimas, a necessária formação especializada sobre violência sexual e deslocações, mas escusou-se a adiantar valores, "até porque nem foram devidamente avaliados" pela CEP.
Além de Rute Agulhas, o grupo executivo do VITA é constituído por Alexandra Anciães (psicóloga com experiência de avaliação e intervenção com vítimas adultas), Joana Alexandre (psicóloga, docente universitária e investigadora na prevenção primária de abusos sexuais), Jorge Neo Costa (assistente social, intervenção com crianças e jovens em perigo), Márcia Mota (psiquiatra, especialista em Sexologia Clínica e intervenção com vítimas e agressores sexuais) e Ricardo Barroso (psicólogo e especialista em intervenção com agressores sexuais).