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Nunca é cedo demais para investir no desenvolvimento humano

Costumo referir muitas vezes os estudos de James J. Heckman (Professor de Economia na Universidade de Chicago, Prémio Nobel de Economia em 2020 e especialista em desenvolvimento humano) e hoje vou referir o que se costuma denominar de equação de Heckman.

Esta equação é apresentada na forma de um gráfico onde na vertical se apresenta a taxa de rendibilidade do investimento e na horizontal é apresentada a idade do indivíduo quando a intervenção é feita. Assim é-nos mostrado um gráfico com uma curva altamente decrescente o que significa que a rendibilidade do investimento é tanto mais alta quanto mais cedo na vida do indivíduo a intervenção se concretiza. Heckman fala muitas vezes nos apoios logo na altura do nascimento da criança, mas eu acredito que até mesmo antes do nascimento da criança já devem ser utilizados apoios de modo que os indivíduos consigam atingir todo o seu potencial.

Podem-me dizer que estas intervenções são caras e que os Governos, com orçamento muito limitados, não as podem realizar, só que não as fazendo estão a prejudicar o desenvolvimento futuro do País. Esse desenvolvimento compensará, em muito, os custos realizados no presente. As crianças de famílias mais vulneráveis são as que mais têm a ganhar com a intervenção precoce evitando custos mais elevados no futuro nas tentativas, muitas vezes frustradas, de recuperação de défices cognitivos e comportamentais acumulados.

Portugal com tão poucas crianças a nascerem não se pode dar “ao luxo” de desperdiçar parte do potencial que só será concretizado se não deixarmos para amanhã o que devíamos estar a fazer hoje e que não estamos a fazer como se pode ver pela análise do Portugal, Balanço Social 2022, Relatório Anual (Susana Peralta, Bruno P. Carvalho, Miguel Fonseca) onde se mostra que “67,4% das crianças oriundas de famílias pobres não frequentam a creche (valor muito superior aos 50% das crianças de famílias de mais altos rendimentos).

Temos de apoiar as crianças não só na sua parte cognitiva, mas acima de tudo na formação do seu carácter, desenvolvendo a atenção, o controle dos impulsos, a capacidade de aguardar pela recompensa no futuro e o espírito de equipa. Estas intervenções são boas não só para os adultos que estas crianças serão no futuro e suas famílias, mas também para todos nós – mais impostos e maiores contribuições para a Segurança Social que irão pagar no futuro, menos despesas de apoio social, só para dar alguns exemplos. Em suma, nunca é cedo demais para quebrar o círculo da pobreza.