Artigos

Me engana que eu gosto

Para ocupar determinados lugares de destaque não basta ter conhecimento técnico

Não sei se ria, ou se chore, com a situação política do nosso país. Se calhar vou rir porque não me apetece chorar.

As “lambadas” no Gabinete do Ministro Galamba e a busca à “James Bond” do computador do ex-adjunto do Ministro são de um amadorismo político incrível. Como se diz em bom madeirense, comportaram-se como “canalhas”.

Comportamento gera comportamento. Com ameaças verbais e físicas de um lado e de outro, como queria a Chefe de Gabinete parar a escalada de violência? E como classificar a ordem de encerramento do Ministério para evitar a saída de um funcionário?

Galamba definiu a sua Chefe de Gabinete como “uma extraordinária jurista”. Então, se assim é, não sabia ela que podia recuperar o computador doutra forma? Era preciso acionar as secretas? Mas havia alguma ameaça à segurança do país?

Para ocupar determinados lugares de destaque não basta ter conhecimento técnico. O poder tem de ser exercido com grande responsabilidade. Quanto maior a posição ocupada, maior controle pessoal deve existir. É preciso ter inteligência emocional para lidar com situações difíceis. Esta situação nunca poderia ter extrapolado desta forma, nem ficado fora de controle.

As atitudes e decisões tomadas demonstraram que as pessoas envolvidas não estão preparadas para o cargo que ocupam. E não me refiro apenas ao Ministro Galamba. Refiro-me também aos elementos da sua equipa ministerial que estiveram envolvidos na interação com o ex-adjunto. Se calhar, o desejo de lamber as botas ao chefe falou mais alto.

É o que dá quando se escolhem equipas com base em mil e um critérios, nomeadamente as cunhas, e se esquece o mérito. Evidentemente que as equipas de trabalho dos Ministros, Secretários e Presidentes são constituídas por pessoas de confiança. Mas, renegar completamente o mérito só dá asneira.

Infelizmente, este caso de agressão e de ameaças, não é caso único na administração pública. Existem outros casos de agressões físicas, comportamentos violentos e mobbing (bullying no trabalho). Por cá, no passado, um Chefe de Gabinete já se envolveu numa cena de pancadaria com um funcionário.

O que correu mal desta vez? O facto de o ex-adjunto ter chamado a polícia para poder sair do edifício. Reagiu e não se encolheu.

Adjuntos e assessores não têm cargos vitalícios e têm de estar preparados para a saída das funções a qualquer momento. Têm acesso a muita informação, inclusive confidencial, e os equipamentos de trabalho disponibilizados pelo governo para a realização da sua atividade profissional são propriedade do governo. Porém, o que está por esclarecer é o porquê acionar as secretas para recuperar um computador de trabalho.

Na Comissão de Inquérito, Galamba disse “O que raio terá aquele computador para que alguém esteja disposto a fazer o que fez?”. Atitude típica de um manipulador que faz a pergunta que todos lhe querem fazer, desviando de si o cerne da questão. Porque a pergunta a fazer ao Ministro é – Porque teve MEDO do computador do ex-adjunto?

Se nada houvesse que lhe pudesse comprometer, então, não necessitava de acionar as secretas para recuperar o computador em 2 horas. E para justificar a sua atuação ainda disse que o seu ex-adjunto tirou muitas cópias nos 4 dias que antecederam a sua demissão por telefone. Então a “extraordinária jurista” não lhe informou que o ex-adjunto só deixaria de ser adjunto com o despacho de exoneração?

Consigo compreender a atitude do ex-adjunto. Pelo que Galamba afirmou na Comissão Inquérito deduz-se que haveria já um clima desagradável para com o ex-adjunto antes da “demissão” por telefone. Provavelmente, o ex-adjunto pretendeu ter na sua mão documentos que lhe permitissem se defender, caso fosse alvo de algum processo. Agora, resta saber quais as acusações jurídicas que lhe vão fazer. Ou se a recolha de documentos e do arquivo no computador é capaz de lhe defender até de processos.

A mim, Galamba não convenceu e já lhe tirei a fotografia. Sem dúvida alguma, não sabemos nem metade do que está em causa.

Ivone Silva e Camilo de Oliveira no programa Sabadabadu, na década de 80, tinham uma canção que dizia assim:

Ai Agostinho, ai Agostinha!

Que rico vinho

Vai uma pinguinha?

Este país perdeu o tino

A armar ao fino!

Este país é um colosso

Está tudo grosso!

Anda tudo a fazer pouco da gente