Será verdade que havia espaços com maior capacidade para o espectáculo dos 'Xutos & Pontapés'?
Secretaria Regional explica que os locais alternativos estavam indisponíveis ou custavam muito dinheiro ao erário público
Cerca de sete mil pessoas assistiram ao concerto dos ‘Xutos & Pontapés’, ontem à noite, no Parque Santa Catarina. A lotação do espaço esgotou para este espectáculo comemorativo do Dia do Trabalhador e centenas ou até mesmo milhares de pessoas ficaram na rua. Em muitos comentários nas redes sociais, alguns cidadãos consideraram que a Secretaria Regional da Inclusão Social e Cidadania poderia ter escolhido um local com maior capacidade de público para a organização deste evento. Foram apontados os exemplos do estádio dos Barreiros ou da Praça do Povo. Será que é mesmo assim?
De facto, existem na Madeira diversos espaços com capacidade para receber mais público. A Secretaria Regional da Inclusão Social e Cidadania admite que estudou essas alternativas mas que teve de descartá-las, pois estavam indisponíveis ou a sua utilização exigiria avultados gastos públicos. “A primeira opção do Governo Regional na escolha dos locais destinados à realização de eventos como o concerto do 1 de Maio passa sempre pelos espaços geridos pelas entidades públicas, seja pela necessária contenção de custos, seja pelo facto de a Região dispor de áreas adequadas e aprazíveis”, esclarece aquele departamento.
É o caso do novo estádio dos Barreiros, concluído em 2016, que apresenta uma lotação máxima de 10.600 espectadores nas bancadas. A capacidade do Estádio do Marítimo poderia facilmente duplicar caso também fosse possível utilizar a área do relvado. Mas essa é uma possibilidade que não se coloca, pelo menos no actual momento do calendário, em que o clube proprietário da infraestrutura continua a utilizar o campo para os jogos da I Liga, pois o pisoteio da multidão provocaria danos não negligenciáveis no tapete relvado.
Foi no antigo estádio dos Barreiros (sujeito a extensas obras de remodelação a partir de 2009) que se reuniu aquela que, porventura, foi a maior multidão num único evento na Madeira. Falamos da missa campal com o Papa João Paulo II, em 12 de Maio de 1992. Estima-se que estivessem concentradas entre 30 a 40 mil pessoas nas bancadas e no relvado do estádio.
A Secretaria Regional da Inclusão Social e Cidadania explicou que “a escolha do Estádio dos Barreiros (ou de outro campo desportivo) comportaria elevados custos, nomeadamente com a substituição do respectivo relvado, não estando estes espaços, de facto, vocacionados para concertos musicais”. Além do mais, no caso dos Barreiros e dada a sua localização, numa zona habitacional de grande densidade, tal escolha “levantaria certamente questões e reclamações em relação ao ruído e à disponibilidade de estacionamento”.
Há também praças e largos de acesso livre no arquipélago da Madeira com maior capacidade do que o Parque Santa Catarina e onde já se realizaram espectáculos, caso da Praça do Povo. Aliás, esta seria mesmo a primeira escolha para o concerto de ontem. A Secretaria Regional revela por que motivos tal não se concretizou: “Por coincidência com as celebrações da Festa da Flor, e porque não é possível alterar a data do feriado 1 de Maio, não foi possível realizar o concerto dos Xutos e Pontapés na Praça do Povo, por razões associadas à logística e à existência de bancadas que, para além de restringirem a mobilidade, comprometiam a segurança das pessoas”.
Os espaços públicos aptos a receber grandes concertos não se restringem ao Funchal. Apontamos dois exemplos que comprovam isso mesmo. Quando, em Setembro de 2016, a Câmara da Ponta do Sol organizou um concerto de Diogo Piçarra na capital do concelho, contou com a assistência de 10 mil pessoas, segundo anunciou o então presidente da autarquia, Rui Marques. E cerca de 15 mil pessoas assistiram ao concerto que os 'Xutos & Pontapés' deram na Semana do Mar do Porto Moniz, no Verão de 2017.
Em futuros espectáculos, “o Governo Regional vai privilegiar sempre espaços geridos pelas entidades públicas, que representem qualidade, atractividade, sejam centrais e signifiquem razoabilidade na aplicação de dinheiros públicos” e “desde que reúnam as todas as condições de segurança, exigência que será sempre prioritária nas decisões a tomar sobre esta matéria”.
Para concluir, refira-se que a enchente de ontem à noite no Parque de Santa Catarina não é inédita. A primeira vez que o espaço atingiu a lotação máxima foi num espectáculo do ‘Summer Opening’ de 21 de Julho de 2017, que teve o cantor brasileiro Seu Jorge como cabeça de cartaz. Mas ao contrário do que aconteceu ontem não houve críticas, talvez por aquele ter sido com entradas pagas.