Madeira

140 latas de spray pintam Cristóvão Colombo em mural no Porto Santo

Trabalho foi desenvolvido numa das paredes exteriores do edifício da Câmara Municipal, em frente à Casa Colombo, onde outrora habitou o navegador

Foto Fábio Brito
Foto Fábio Brito

Mr. Dheo pressionou a válvula de 140 latas ao longo de "mais ou menos" uma semana para concluir o trabalho que é hoje inaugurado na Ilha Dourada. Cristóvão Colombo é a figura de proa desta última obra do artista de 'street art' natural do Porto que compreende uma 'tela' com mais de 100 metros quadrados.

Há mais de 20 anos, quando Mr. Dheo ainda nem sonhava que seria o graffiti a colocar comida à sua mesa, era quase impensável que uma autarquia despendesse qualquer verba para, à época, um mero adolescente com latas de spray nas mãos pintasse algumas paredes.

A mentalidade, acompanhada do agora parco estigma social, acabou por mudar, sobretudo graças à criatividade e firmeza de alguns 'writers' - os que recorrem ao graffiti como manifestação artística -, onde se incluem Mr. Dheo, o artista que coloca agora o Porto Santo na lista de Municípios que com recurso à arte urbana têm ousado transformar a certa vulgaridade estética dos seus edifícios.

Há 15 ou 20 anos a única coisa que nós víamos na rua era o graffiti ilegal, feito à pressa, sem autorização e sem grande qualidade. Obviamente que era muito fácil rotulá-lo como algo negativo, que não queríamos nas nossas cidades. Nos últimos 15 anos, se calhar mais vincadamente nos últimos dez, o caso mudou completamente de figura. Os artistas começaram a conquistar espaços autorizados nas cidades, onde podiam trabalhar, onde podiam desenvolver as suas técnicas, portanto, houve uma evolução muito grande que atraiu o interesse das autarquias, que ao perceber o impacto que essas pinturas tinham, começaram a contratar esses artistas. Mr. Dheo

Criou-se assim um mercado que "permitiu equilibrar a balança", ou seja, "hoje em dia andamos nas cidades e já encontramos murais superinteressantes, apelativos, que nos conquistam e que acabam por fazer parte da identidade dessas cidades, e o graffiti que está ao lado, ilegal, passa a ter menos impacto, porque há esse equilíbrio".

No entanto, o nortenho reconhece que "ainda existe um bocadinho" de preconceito. "Obviamente, se usarmos a palavra graffiti às vezes é complicado, mas acredito que está a evoluir na direcção certa e as coisas estão a mudar", admite, mesmo que o País caminhe a outro ritmo se compararmos com outras cidades do Mundo por onde o artista natural do Porto já deixou a sua marca.

Obviamente que em Portugal é sempre um bocadinho mais lento do que acontece na grande parte dos países, mas está a mudar e acho que a imagem já é completamente diferente. Prova disso é a aposta das autarquias e das empresas e os murais que hoje em dia encontramos na maioria das grandes cidades portuguesas. Mr. Dheo

Reconhecido artista de 'Street Art' vai pintar mural de Cristóvão Colombo no Porto Santo

Vai nascer, muito em breve, um mural de Cristóvão Colombo no edifício da Câmara Municipal do Porto Santo, que será da autoria de Mr. Dheo, artista mundialmente conhecido pelos seus trabalhos de graffiti e arte urbana.

Sobre o trabalho executado nesta parede com mais de 100 metros quadrados o resumo é simples: “foi difícil”. E André Cunha admite que “continua a ser independentemente dos anos de experiência que estão para trás, não só porque a arte não é uma coisa mecânica”, mas também porque o seu estilo, o realismo, “não é propriamente a coisa mais fácil de executar a spray”.

"E foi uma escolha minha, propositadamente há bastantes anos, não só porque era o estilo mais fácil de eu comunicar as minhas ideias para um público mais generalizado, mas também por aí, pelo desafio, por eu saber que cada vez que fosse pintar seria sempre difícil, seria sempre complexo, e isso alimenta-me. Acho que a partir do momento em que se torne fácil deixa de ter piada, portanto, eu gosto disso, gosto do desafio", reconhece em declarações ao DIÁRIO.

Aqui era uma situação muito específica, porque era o primeiro trabalho com esta escala na ilha, portanto, acrescentava um sentido de responsabilidade maior, um cuidado também redobrado com os cidadãos e com quem vive diariamente a ilha e, portanto, tive de ter obrigatoriamente essa atenção. Posso estar satisfeito e orgulhoso com a obra que deixei aqui. Mr. Dheo

Mr. Dheo que acredita no potencial do Porto Santo. “Pelo que eu já vi da ilha acho que não faltam espaços que podem ser embelezados e intervencionados, mas sobretudo por ser um espaço quase virgem a nível deste tipo de arte e, portanto, poder-se-á criar aqui quase uma identidade cultural nova, jovem, que por si só acaba por atrair turismo”.

“Há turismo vocacionado para a arte urbana, muito provavelmente a grande maioria dos turistas e especialmente os estrangeiros e mesmo os que vêm do continente que visitam o Porto Santo já se identificam muito com este tipo de linguagem e é sempre mais uma forma de divulgar a ilha e divulgar a identidade cultural de cá”, reconhece.

É muito comum, quer eu, quer outros artistas da minha área sermos identificados quase diariamente em vários lugares do Mundo onde as pessoas vão, fotografam e identificam e, portanto, acho que por si só os murais atraem malta, atraem registo, divulgação e é positivo para os artistas e para as cidades. Mr. Dheo

Assim, o Município do Porto Santo, a exemplo de várias cidades portuguesas, passa a ter mais um elemento de atracção turística relacionado com a arte urbana, este designado como 'Mural de Cristóvão Colombo'.

O mural compreende uma área com cerca de 8 metros de comprimento e 13 metros de altura, onde além da figura de Colombo também é representada uma caravela, símbolo das descobertas portuguesas.