O Livro
Somos uma civilização constituída sobre os fundamentos da escrita. O Homem, no seu aspeto histórico-cultural, tem sido, grandemente, um produto do livro.
Num relatório da UNESCO sobre o hábito da leitura no mundo, concluíram que nenhum outro processo de comunicação, inclusive o eletrónico, é o mais adequado de treino mental e fortalecimento do poder de imaginação do que o contacto humano com o material impresso de boa qualidade: o livro.
A Construção do Livro, da autoria de Emanuel Araújo, o mestre António Houaiss escreveu para o seu prefácio (…) o livro materialmente na sua fruição mais requintada ou mais generalizada – folhas de papel impresso (mesmo que a duas mãos) – esse livro pode desaparecer mas não desaparecerão com a sua fisicidade as suas mensagens e seus códigos (…) O computador que equivale à soma de todos os livros será um servo daqueles dialetos de linguagem oral, que é sobretudo resultado dialético da linguagem escrita (…)
O “Livro” poderá, assim, para certos fins, apresentar-se sob outra técnica física. Mas, enquanto perdurar o rigor da leitura a sós, o enlevo da leitura, a emoção do manusear das páginas, enquanto isso perdurar teremos os livros – livros esses que estão incorporados à nossa maneira de sermos humanos.
Eis o pensamento de Jorge L. Borges de incrível lucidez e alcance universal, sobre a importância do Livro. “Dos muitos instrumentos inventados pelo homem, nenhum pode comparar-se nem de longe ao livro, porque os outros instrumentos são extensões, são mecanismos desse outro mecanismo que é o nosso corpo... Em suma é uma extensão da memória e da imaginação.”
Um país faz-se com homens e livros. “Uma educação bem sucedida é aquela que torna aceitáveis como naturais alguns conceitos e interpretações da realidade”. Portanto, é também por definição uma educação que torna conformista os que a recebem e os priva da possibilidade de questionar os pressupostos geralmente implícitos sobre os quais se fundamentam os “conhecimentos” assim transmitidos. Deste ponto de vista convém sublinhar que a prioridade das prioridades deste País, plantado à beira mar não será a digitalização total na sala de aula. Em vez de nos preocuparmos com os alicerces em primeiro lugar, preocupamo-nos demasiado com o tardoz.
Que eu saiba a digitalização não produz os TEP (tonelagem energética do petróleo), simplesmente os controla.
O resultado está à vista!
Ricardo J. F. Sousa