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Os juros e os lucros

Os lucros dos maiores bancos em conjunto aumentaram 54%, 919,3 milhões de euros no 1º trimestre deste ano. O BCP alcançou 215 milhões €, mais 90% face ao 1º trimestre do ano passado; a CGD, 285 milhões €, quase o dobro no mesmo período de 2022; o NB, 148,4 milhões €, mais 4%; o Santander, 185,9 milhões €, mais 19,6%; o BPI, 85 milhões €, mais 75%.

Os avultados ganhos que as instituições financeiras apresentam hoje, fruto do crescimento significativo dos juros no crédito, particularmente nos empréstimos para a compra de habitação, em tempo de crise e de preocupante inflação, é imoral.

Até porque, concomitantemente, não subiu a remuneração do capital nos depósitos, foi mantida a níveis irrisórios e é a diferença entre os juros que recebem e os que pagam que geram os proveitos exponenciais que apresentam agora.

Dir-me-ão que o mercado está a funcionar e os bancos privados o fazem livremente. E o público? E os que contaram com avultadas verbas do Estado para sobreviverem? Ou seja, dos contribuintes? Aqui é que está o busílis da questão. E onde se põe o dedo na ferida.

O governo não pode ou não deve fazer nada? Ou pode e deve? É a pergunta pertinente que se coloca. Porque se trata da defesa das inúmeras famílias, hoje sufocadas e com extremas dificuldades para pagar as prestações da casa, ampliadas substancialmente com os juros que, agora, dão lucros extraordinários à banca.

Caso nada faça o governo é conivente. Omitindo intervenção proporcional que reponha alguma justiça social, assistirá ao esmagamento progressivo de considerável percentagem da classe média, designadamente a mais jovem, e será responsável por isso. Estaremos perante o fenómeno “Robin dos Bosques” do avesso.