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O baixo poder de compra dos madeirenses

Os madeirenses vivem uma realidade concreta muito difícil que resulta do modelo de desenvolvimento imposto pelo regime laranja, assente em salários baixos e numa estratégia errada de empobrecimento de quem trabalha, obrigando a que, na última década, cerca de 17 mil madeirenses tivessem de emigrar por falta de oportunidades.

De acordo com o INE, apesar do crescimento económico da Região, onde se destacam os recordes de receitas no turismo, na construção civil e nas novas tecnologias, os madeirenses que trabalham levam para casa, em média, apenas 887 euros de salário mensal, um facto que contribui para o agravamento das desigualdades e para o aumento do fosso entre os ricos e os pobres. Se juntarmos os cerca de 82 mil madeirenses que usufruem de um rendimento abaixo dos 700 euros, percebe-se muito bem por que motivo somos a região do país com a mais alta taxa de risco de pobreza e exclusão social.

Esta é a realidade financeira da maioria dos madeirenses. Com salários deste nível, como é que uma família consegue pagar 3.000 euros para operar as cataratas de um familiar para que não fique cego? Como poderá pagar 300 euros para fazer um simples exame de diagnóstico ou 55 euros por uma consulta num consultório privado? Como poderá resolver o problema de saúde e dar alguma qualidade de vida a um familiar que já está preso a uma lista de espera há mais de 3 anos? Como é que um madeirense com um salário médio de 887 euros consegue adquirir uma casa de 500 mil euros, ou pagar uma renda de 800 euros, ou continuar a assumir o pagamento da prestação da sua casa que aumentou cerca de 150 euros mensais? E como é que um salário deste valor consegue assegurar uma despesa imprevista no seio de uma família?

O Governo Regional recebe milhões de euros de fundos europeus, milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência e vai continuar a guardar, nos seus cofres, todos os impostos dos madeirenses. Em 2023, serão mais de 1.000 milhões de euros, a juntar às transferências do Estado. No entanto, porque o Executivo nunca alterou o modelo de desenvolvimento, por opção política ou na defesa de outros interesses pouco claros, os madeirenses continuam a viver com os salários líquidos mais baixos do país e sem o poder de compra suficiente para garantir a qualidade de vida a que têm direito.

Os salários baixos do povo madeirense não podem ser assumidos como uma fatalidade. A alternativa a este modelo económico que promove o empobrecimento é possível, mas nunca com um governo regional PSD/CDS gasto, sem ideias e que se limita a fazer propaganda, a negar a realidade e a acusar os outros pela sua própria inércia política.

Urge assumir uma outra visão estratégica na definição das políticas estruturantes no sentido da construção de um outro modelo de desenvolvimento que promova uma redistribuição da riqueza de forma mais justa, garantindo a defesa dos reais interesses dos madeirenses.