A Guerra Mundo

Rússia acusa EUA de "hipocrisia" ao alegar que Pretória forneceu armas a Moscovo

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A embaixada da Federação Russa na África do Sul acusou hoje os Estados Unidos (EUA) de "hipocrisia" ao alegar que a África do Sul forneceu armas à Rússia.

"Não há absolutamente nenhuma contradição aqui para as autoridades dos EUA, fortemente dominadas por padrões duplos e hipocrisia", afirmou, em comunicado, a embaixada da Federação Russa na África do Sul.

No comunicado, divulgado na página oficial de internet, a representação diplomática de Moscovo instou o embaixador norte-americano Reuben Brigety a apresentar "provas" que sustentem as suas alegações, afirmando que "os Estados Unidos parecem ter perdido a sua capacidade para interagir com os parceiros em igualdade de condições há muito tempo".

""A hegemonia mundial" não pode punir a África do Sul por ser "não-alinhada"", sublinhou.

O embaixador dos EUA em Pretória, Reuben Brigety, afirmou na semana passada que um navio de carga russo tinha atracado na base naval de Simon's Town, perto da Cidade do Cabo, em dezembro, e que regressou à Rússia com armamento e munições.

O diplomata norte-americano sublinhou também que o posicionamento de não-alinhado da África do Sul em relação à guerra da Rússia contra a Ucrânia poderá afetar os acordos comerciais entre os EUA e Pretória.

As declarações do embaixador dos EUA na África do Sul foram ouvidas com indignação pelo Governo sul-africano, liderado pelo partido Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), no poder desde 1994 e antigo aliado de Moscovo, e o partido da extrema-esquerda Combatentes da Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês), terceiro maior partido na oposição no país.

Reagindo no final do dia de hoje às alegações de Washington, a embaixada da Federação Russa na África do Sul instou o diplomata norte-americano a explicar também "o motivo por que a Rússia necessitaria de armas e munições de fabrico sul-africano que não correspondem aos tipos nem aos calibres dos sistemas atualmente em serviço nas forças armadas da Rússia".

"E como uma quantidade tão minúscula de "armas e munições" supostamente "carregadas no navio" influenciaria a situação no campo de batalha de qualquer maneira", adiantou.

No comunicado, a embaixada da Rússia na África do Sul questionou "porque é que o diplomata dos EUA se sente perfeitamente bem com o facto de o seu país e os seus satélites fornecerem armas à Ucrânia desde 2014".

"Porque é que o embaixador Brigety não diz uma palavra sobre o uso dessas armas para atacar cidades em Donbass, bem como as regiões de Bryansk e Belgorod na Rússia diariamente, e porque não expressa preocupação sobre essas armas acabarem nas mãos de terroristas na Europa e em todo o mundo", adiantou, no comunicado, a embaixada da Federação Russa na África do Sul.

A reação de Moscovo surge após as recentes tensões entre Washington e Pretória sobre o alegado apoio militar sul-africano, e o seu posicionamento de "não-alinhado" com os países ocidentais desde o início da ofensiva militar russa na Ucrânia.

O Governo sul-africano afirmou que não havia registo de vendas de armas aprovadas pelo Estado à Rússia durante o período em questão e o Presidente Ramaphosa anunciou uma investigação sobre o assunto.

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky "concordaram em receber uma missão de paz e os chefes de Estado africanos [promotores da iniciativa] em Moscovo e em Kiev", anunciou hoje Ramaphosa numa conferência de imprensa na Cidade do Cabo.

Para além da África do Sul, que lidera a iniciativa de paz, a missão incluirá o Senegal, a Zâmbia, o Congo, o Uganda e o Egito, referiu o chefe de Estado sul-africano.

"O Secretário-Geral das Nações Unidas [António Guterres] foi informado e saudou a iniciativa", adiantou Ramaphosa.