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Medo da Inteligência Artificial?

Desde a minha adolescência que enormes doses de ficção científica me fizeram vislumbrar a hipótese de um futuro onde a Inteligência Artificial (IA) poderia vir a dominar-nos. Filmes como “The Terminator”, “Matrix”, “iRobot”, “Minority Report” e “A.I.: Artificial Inteligence” são apenas alguns exemplos.

Se ainda hoje as potencialidades da Inteligência Artificial nos deixam perplexos e algumas produções de cinema suscitam polémicas, que até são compreensíveis, atendendo aos investimentos que algumas empresas fazem em IA, na altura era natural que alguns cenários apresentados nos grandes ecrãs – ainda que exagerados ou descabidos – nos tenham conseguido deslumbrar. Eram outros tempos. A ciência e a Internet não estavam tão evoluídas. Não dispúnhamos de smartphones com aplicações inteligentes e era absolutamente impensável, para a época, que poderíamos passar a dispor de recursos de IA que nos pudessem facilitar a vida, como o ChatGPT ou outras ferramentas mega sofisticadas.

O que é certo é que rapidamente nos adaptamos às mais novas e modernas tecnologias. Bem… não foi só adaptar-se, foi mais do que isso. Devido à sua grande utilidade, ficamos completamente dependentes, não conseguindo abdicar destas. Como eu, os que nasceram e cresceram numa era não digital, começaram a lidar com os computadores, o telemóvel e a Internet na juventude, mas rapidamente estas tecnologias se tornaram verdadeiramente indispensáveis. Eu diria mesmo que, nalguns casos, comandam totalmente o nosso dia-a-dia.

Não será normal que, da mesma forma que, aos poucos, fomos convivendo com a evolução tecnológica e se falou tanto dos muitos riscos da Internet e dos computadores retirarem postos de trabalho, entre outros, a IA – como estratégia de transformação que estamos a viver –continue a evoluir constantemente?

O que é um facto é que os avanços que se têm registado na IA têm preocupado a humanidade. No dia 22 de março de 2023, foi publicada pelo “Future of Life Institute”, uma organização sem fins lucrativos, uma “carta aberta” com o intuito de fazer uma pausa de seis meses em grandes experiências laboratoriais de IA. O principal argumento apresentado é que os sistemas de IA com inteligência competitiva humana podem representar riscos profundos para a sociedade e a humanidade. O documento conta já com mais de 27,5 mil assinaturas, com destaque para prestigiados investigadores do MIT, cofundadores e CEO de grandes empresas de tecnologia, políticos, etc.

Após a carta, destacados cientistas e investigadores da área têm vindo a público manifestar-se contra a evolução da Inteligência Artificial, alegando que esta poderá trazer riscos para a humanidade, como limitar a capacidade de raciocínio e de resposta, contribuir para a perda de trabalhos e aumentar a desinformação.

Por outro lado, porque a IA não tem consciência, não se pode tornar humana e não consegue – per si – dominar o Mundo, há quem defenda que não devemos ter medo da IA, apesar de, devido ao seu automatismo, poder ter falta de ética e conseguir manipular as pessoas, sobretudo com fins económicos.

Na minha área, ou seja, na Comunicação, e mais concretamente no que concerne à desinformação, a IA é usada não apenas para a criação e difusão de “fake news”, mas também para a sua deteção.

Ainda, importa referir que a União Europeia está a preparar, desde 2021, um conjunto de regras para gerir as oportunidades e os desafios da IA, que visam aumentar a confiança da sociedade e das empresas. Contudo, os rápidos avanços da IA estão a dificultar a vida aos legisladores, uma vez que o desenvolvimento tecnológico está a ser mais rápido do que o esperado.