Autocarros que viajam no tempo ou relíquias sobre rodas?
Caros companheiros de viagem e cidadãos preocupados,
Permitam-me apresentar-vos uma empresa de transporte público que domina a arte de viajar no tempo com a sua frota! Enquanto o mundo avança a passos largos, esta empresa transporta-nos diariamente de volta a uma era há muito esquecida.
Refiro-me à Rodoeste, onde relíquias da era jurássica nos transportam através do tempo - literalmente!
Embora consigamos apreciar o encanto vintage destas cápsulas do tempo, temos de ponderar as implicações e consequências de uma frota de autocarros que sobreviveu a várias gerações, muitos com mais de 30,35 e mais anos, em andamento neste preciso momento.
A título de comparação: Quando estes autocarros começaram a circular, não havia internet nem smartphones, GPS era inexistente e a fotografia digital era coisa de filmes de ficção. Da mesma maneira, no mundo automóvel não havia sistemas de travagem com ABS ou controlo de tracção, a segurança geral dos veículos era substancialmente inferior ao que é o mínimo exigido hoje em dia.
O que pessoalmente me incomoda mais são as repercussões ambientais destes veículos:
Enquanto o resto do mundo se preocupa com a sustentabilidade e a consciência ecológica, estes autocarros "berram" pelas nossas montanhas acima, emitindo uma sinfonia de fumos negros que deixariam uma chaminé industrial envergonhada. Aqui, a responsabilidade parece ser a de preservar a atmosfera da Revolução Industrial e deixar os transeuntes com falta de ar.
Eu tenho quase 40 anos, viajei nestes mesmos autocarros há 3 décadas atrás e lembro-me de os achar velhos. Isto numa altura em que os bilheteiros ainda existiam e muitos tresandavam a uma "pinguinha" quando passavam por mim. Hoje em dia, o cheiro que incomoda é o do fumo que estas máquinas infernais espalham pelas nossas estradas. Nada mudou, uma viagem do Funchal até Câmara de Lobos mais parece uma viagem numa montanha russa com pneus.
Não se trata apenas de modernização; é uma questão de segurança, de protecção ambiental e de sustentabilidade! Estes autocarros estão ultrapassados, têm as carcaças podres podres e não deveriam estar a circular. Para quê ir a Cuba quando temos a Rodoeste aqui mesmo?
Não tenho nada contra a Rodoeste nem contra as pessoas que lá trabalham, mas não consigo assistir a este atentado e continuar calado. Estou farto de ter de ser obrigado a fechar a janela do carro quando vou atrás de um destes monstros e de cobrir a boca quando passam por mim e estragam um passeio agradável.
Estou certo que não é de má vontade que a frota não seja renovada mais depressa, mas apelo à empresa e ao próprio governo a despedir-se destes "dinossauros" o quanto antes, não só por respeito aos utentes, mas também em prol dum futuro mais limpo, seguro e sustentável para nós e os nossos filhos.
P. Abreu