"A direita não tem nenhuma ideia de mudar"
Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, visitou hoje o Mercado do Santo da Serra
Impostos altos, inflação em alta, salários baixos, falta de habitação sobretudo para os jovens, zona franca da Madeira, lei da eutanásia foram os principais temas que foram alvo de comentário da líder do Bloco de Esquerda, numa acção de pré-campanha no Mercado do Santo da Serra, concelho de Santa Cruz, este domingo. Catarina Martins esteve em contacto com as pessoas com o objectivo de transmitir a importância do regresso do partido ao parlamento regional já nas próximas eleições legislativas que se realizam em Setembro ou Outubro deste ano.
Em declarações aos jornalistas, a coordenadora nacional do BE, ladeada pela líder regional, Dina Letra, e pelo cabeça-de-lista às referidas eleições, Roberto Almada, salientou que faz falta essa voz que dê luta à direita e fazer oposição que o PS não tem sabido fazer.
"É preciso discutir o futuro da Madeira e é preciso discutir os problemas", justificou a sua vinda, mais uma para dar apoio à candidatura bloquista à Assembleia Legislativa neste período de pré-campanha, alturas "importantes para o fazer", salientou. "A Madeira está com uma inflação muito alta, compara aliás com os locais do país onde os preços mais subiram, mas com um problema. É que os salários são mais baixos e, portanto, a desigualdade e a dificuldade de vida que se sente em todo o país, sente-se na Madeira de forma particular".
"E tem faltado a voz do Bloco de Esquerda no parlamento regional e, por isso, é para nós tão importante que o Bloco possa voltar e seja uma voz forte em defesa de quem vive do seu trabalho e contra esta desigualdade", reforçou, apontando um aspecto particular que preocupa este partido além dos salários baixos com uma inflação alta. "Está-se agora a discutir a habitação e o que vai ser feito. Na Madeira está a ser construída nova habitação. O problema é que é tudo segmento de luxo. Estão-se a fazer casas para os magnatas ricos que venham de outros países para cá. Porque quem cá vive, quem cá trabalha, quem recebe aqui um salário, não consegue arrendar ou comprar uma casa, é impossível", argumenta.
Em particular, os jovens, garante Catarina Martins, sentem essa falta de expectativa quanto ao futuro, reconhecendo que a situação é "difícil para todas as gerações". Mas "as gerações mais jovens, como podem pensar ter um futuro aqui e cá ficar, se o que lhes oferecem é emprego precário de longas horas, muitas longas horas com salários muito baixo, e não conseguem, literalmente, arranjar uma casa? Enquanto isso temos o presidente do Governo Regional e o presidente da Câmara do Funchal a dizerem que está tudo bem, e venham mais vistos gold e venham mais construções de luxo para os magnatas ricos desse mundo todo, mas para as pessoas daqui é que continua sem existir uma casa que as pessoas possam pagar".
Neste debate de ideias que, promete, não irá calar o Bloco para que "quem trabalha na Madeira possa ter uma vida digna e possa ter acesso a uma habitação", também tem por objectivo convencer quem já votou no partido e, "talvez, tenha sentido (nas últimas regionais) que podia encontrar no PS e na sua coligação uma forma de ter uma mudança", a voltar a votar na candidatura a que se propõe no próximo acto.
"Não aconteceu a mudança e o que vimos é que oposição na Madeira ficou mais frágil, vemos que não há oposição aguerrida que as pessoas da madeira sempre reconheceram ao Bloco, como a que Roberto Almada sempre fez", justifica. "E o que vemos é que a direita tem toda o mesmo projecto, quer continuar tudo como está, mais partido menos partido no Governo, mas não tem nenhuma ideia de mudar, acha bem que os grandes grupos económicos tenham cada vez mais lucros, enquanto quem vive do seu trabalho não tem onde viver. Isso é inaceitável", lamenta, acreditando que "o Bloco faz falta".
BE "não defende extinção do CINM"
Questionada se continua a defender a extinção do Centro Internacional de Negócios da Madeira (CINM), vulgarmente conhecido como zona franca da Madeira, Catarina Martins aproveitou para esclarecer a sua posição que vincula o partido.
"O que nós sempre defendemos - eu sei que as pessoas gostam de fazer posições estranhas sobre o que dizemos - é que é normal que a Madeira tenha, do ponto de vista fiscal, uma situação diferente para atrair emprego, porque é uma região ultraperiférica da Europa. Não temos nada contra isso", assegura. "O que não achamos bem é quem vem para a Madeira para não pagar impostos e depois não cria os empregos que estava obrigado a criar, porque isso é enganar as pessoas da Madeira, isso é roubá-las. O que nós queremos, sim, é que possa haver centro internacional que tenha até impostos mais baixos, mas que cumpra as regras. E as regras são criar emprego. Porque se não criar emprego para que é que servem às pessoas da Madeira estas empresas estarem aqui? Estão cá a fazer o que? Estão cá a encher-se e a deixar as pessoas de cá cada vez mais pobres", argumentou
E conclui: "É uma falsa questão. O Bloco nunca teve nada contra o regime fiscal especial da Madeira que compensasse a Madeira por ser uma região ultraperiférica da Europa. Muito pelo contrário, achamos que é preciso, mas é preciso ser-se sérios e ver que os os benefícios fiscais têm de servir para se criar emprego e riqueza na Região e não para encher os bolsos de uns poucos, enquanto a maioria fica cada vez pior."
Liberdade de escolha de como viver e morrer
Noutro assunto, a lei da eutanásia aprovada na sexta-feira na Assembleia da República e que deverá ser promulgada pelo Presidente da República esta semana, bem como a posição do papa Francisco, a líder do Bloco disse que têm "um enorme respeito por todas as fés, pelas várias igrejas e pelo direito a cada pessoa de conduzir a sua vida de acordo com aquilo que acredita, de acordo com a sua fé, respeitamos imenso".
No entanto, lembra que "o Estado português é um estado laico e foi feita uma lei que respeita o desejo de cada pessoa numa situação de enorme sofrimento quando chegar ao fim da vida", garantindo que esta "não impõe nada a ninguém, respeita o que cada pessoa entender o que é a sua dignidade e o sofrimento pessoal que teve" e isso "faz do nosso país um país mais tolerante, mais forte, com o absoluto respeito pela fé de cada pessoa".