Os madeirenses estão a casar-se mais?
Afinal de contas, há ou não há uma tendência de mais casamentos na Madeira? Há cerca de dois meses fizemos a mesma questão, mas os dados pareciam apontar para esse cenário impreciso, já que a longo prazo, é óbvio que hoje há menos casamentos do que no passado - e quanto mais recuamos no tempo, mais se nota essa diminuição no presente -, mas há algo que mudou. Pode ser temporário, devido aos que adiaram os casamentos por causa das restrições impostas pela covid-19, mas também pode estar mesmo a acontecer um novo contexto. Por isso, desta vez, fazemos a pergunta no sentido contrário. E com dados mais concretos.
Estarão os madeirenses a casar-se menos?
Estará a 'instituição' casamento em desuso? Estarão os madeirenses a casar-se menos? As estatísticas a longo prazo, que recuam até à década de 1970, mostram que, por exemplo, em 1975 tinham sido celebrados 2.650 matrimónios e a tendência, desde então tem sido de declínio até se chegar aos mínimos de 612 em 2020, num ano atípico em que, mesmo que quisessem, os casais não podiam celebrar o seu casamento da forma como praticamente todos querem, juntando familiares e amigos.
Vamos aos factos. "Em Março de 2023, o número de casamentos celebrados aumentou 43,8% quando comparando com o mês homólogo", frisou a Direcção Regional de Estatística da Madeira nos dados divulgados na sexta-feira. Nesse mês, "celebraram-se 69 casamentos, correspondendo a um aumento" significativo face ao "número de casamentos realizados no mês de Março de 2022 (mais 21 casamentos). Comparativamente ao mês precedente, registou-se um aumento de 38,0% (mais 19 casamentos)", enquanto que "de Janeiro a Março de 2023 foram celebrados 185 casamentos, mais 44 (+31,2%) do que no período homólogo de 2022, e, respectivamente, mais 34 e mais 83 do que nos períodos homólogos de 2020 e de 2021", acrescenta a DREM.
Sendo o conceito de casamento um "contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, nos termos da legislação em vigor", podendo o casamento ser celebrado "entre pessoas de sexo diferente ou do mesmo sexo". Nota-se que "com a Lei n.º 9/2010 de 31 de Maio, passou a ser permitido o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. A partir de 2010 os valores incluem os casamentos celebrados entre pessoas do mesmo sexo, pelo que estes não podem ser comparáveis com a série anterior", registando-se por isso mais um acrescento à série do que uma efectiva quebra de série.
O gráfico acima mostra a tendência dos últimos quatro anos completos, revelando o 'boom' ocorrido em 2022, justificado pelas razões pandémicas referidas no início. Tal é que em 2022 (1.139) ocorreu o maior número de matrimónios ocorrido nos últimos 14 anos, ficando apenas atrás de 2008 (1.153) neste período e ultrapassando pela primeira vez os mil casamentos, o que não ocorria desde 2011.
Fica também claro no gráfico em baixo que, apesar de os casamentos entre pessoas do mesmo sexo passar a ser permitido há 12 anos, isso não impediu um decréscimo consistente até 2014 - talvez justificado pela crise económica que a Madeira também viveu nesse período e que pode ter influenciado não só a realização de matrimónios como muitos a optarem pela emigração, influenciando indirectamente este indicador -, que voltou a crescer e a estabilizar até 2019, parecendo acompanhar o crescimento económico. Depois, aconteceu a pandemia em 2020 e, apesar do crescimento, ainda com reflexos em 2021.
E, por fim, 2022 acabou por evidenciar esse novo 'boom' de casamentos, à média superior a 3 por dia, mas se nos cingirmos a apenas aos fins de semana, que é quando tradicionalmente ocorrem mais casamentos, então dá quase 22 casamentos por semana ou fim-de-semana, se preferir.
Perante esta que parece ser uma nova realidade, optamos então por uma análise trimestral, do 1.º ao 4.º trimestre de cada ano desde 1990, já com o 1.º trimestre de 2023 incluído, e que compara com os períodos homólogos. Então temos que desde 2009 que não ocorriam tantos casamentos como nos primeiros três meses deste ano. Apesar do 1.º trimestre do ano passado ter estado ligeiramente acima da média da década (136), como se pode observar no gráfico em baixo, não fez grande diferença. Este ano sim, supera largamente os números recentes, com a média de 2009 a 2023 a situar-se nos 144,5.
Nos 2.ºs trimestres é que se assiste à maior variação, pois o número de casamentos registado nesses três meses de Abril, Maio e Junho de 2022 só são superados pelo mesmo período em 2004, ou seja há 18 anos. Aqui os números estarão empolados pela retoma, sem restrições, dos casamentos, aproveitado por muitos casais para, finalmente, darem o nó.
Nos trimestres que vão de Julho, Agosto e Setembro, ou seja que é o período em que ocorrem mais matrimónios na Madeira, só encontramos mais eventos em 2008, há 15 anos. Nota-se, tal como nos trimestres anteriores, a variação ocorrida nestes anos, com o decréscimo mais acentuado durante a pandemia e a nova realidade desde então com o pico no 3.º trimestre de 2022.
Por fim, no 4.º trimestre, que vai de Outubro, Novembro a Dezembro, também o mesmo cenário, mas com o máximo a ser superado acima da década e só inferior ao ano de 2007. Isto, no fundo confirma que os últimos quatro trimestres resultaram numa nova realidade que poderá vir a ser confirmado nos próximos meses.
Ainda assim, e para ser factual, a nova crise inflacionária e da habitação, que resultou do fim da pandemia e o início de uma guerra a Leste da Europa, pode muito bem influenciar a tomada de decisão. É que, afinal de contas, diz o ditado popular, "quem casa quer casa".